15 setembro 2014

Facebook fast food

Quando você lê - Coisa boa, coisa ruim, coisa engraçada: há uma absurdamente veloz alternância de assuntos na Timeline. Você fica no máximo 10 segundos lendo cada publicação e suas emoções seguem o fluxo. Resultado: você nunca pensa nem reage profundamente. Perceba qual o seu estado mental descendo o mouse: em menos de um minuto você lê "Ufa, cheguei cedo hoje!", "Olha que lindo esse vídeo do gatinho!" e "Comunico a todos que nossa irmã faleceu de madrugada". Por estarem sempre na montanha russa, as emoções suscitadas pelo FB acabam buscando um modo mais estável, e esse modo é a insensibilidade.

Quando você escreve - No Facebook, tudo o que passa pela sua cabeça durante o dia é passível de publicação: desde torcer para o seu time até reflexões filosóficas sobre um tema preferido. Escrever pensando em publicar no Face significa que você vai ajustar o que pensa para o modo "fast food" - não só pelo pouco espaço disponível, mas porque tem todo tipo de gente na sua Timeline e você quer que todos leiam e reajam imediatamente, se não, escreveria em outro lugar. Percebe o automatismo? Preparar "comida" para todo mundo, a todo momento, gera banalização. E, quanto mais você passa seu tempo no Facebook, mais você desenvolve a mania de exteriorizar para esse faceless public tudo o que você pensa. Logo você começa a pensar exclusivamente no "modo Facebook", e todos os seus pensamentos viram fast food. Sua vida interior, em vez de Estação Gourmet, vira barraquinha de hambúrguer. 

E o lado positivo? - Por sua própria estrutura, o Facebook acaba treinando você para a insensibilidade e a banalização das relações. Isso é o contrário do que ele se propõe a fazer. Mas, é claro, há aspectos positivos na rede social: encontrar gente que não se vê há muito tempo, manter contato com leitores (no meu caso), centralizar conversas em torno de temas de interesse etc. O problema é que é muito fácil cair na armadilha da compulsão, quando todos os aspectos negativos superam os positivos.

Então eu tenho que sair do Face? - Não acho que necessariamente você deva sair do Face. Mas, se você já consegue identificar insensibilidade e superficialidade nas suas interações facebookianas, é urgente o movimento inverso: o Facebook precisa sair de dentro de você.

Mas o que eu faço? - Dedique menos tempo ao Facebook. Não esqueça da vida rolando o mouse para baixo, nem pense em publicar toda hora. Perca a compulsão pelas reações imediatas dos leitores: os melhores pratos precisam de tempo para ser preparados e degustados. Se você gosta de escrever, mantenha um caderno só para você e busque registrar reflexões mais longas e pausadas. Preserve sua vida interior e dedique-se mais a quem você pode encontrar pessoalmente. Se está em casa com a família ou amigos, evite o Facebook e dê-lhes a máxima atenção. Ao sair com alguém, não fique consultando o celular a cada minuto; de preferência, coloque no silencioso e esqueça-o. Sempre que sobrar um tempinho de lazer, não corra para o Facebook, mas leia um livro. E, se der vontade de compartilhar tudo o que você está lendo no Facebook, anote no próprio livro seus pensamentos e depois, se achar pertinente, publique - mas depois de já ter lido um bom pedaço. Assim como ir ao McDonald's, o Facebook deve ser exceção na sua vida, não regra.

Para ler mais (em inglês): até o Steve Jobs controlava o uso da internet em casa. Ele conhecia de perto os danos do vício em computadores. Artigo inspirador!

7 comentários:

DÉBORA disse...

Poxa, muito legal. Tentarei fazer essas ponderações, embora eu não ache que me enquadro nos compulsivos pela rede social, mas já me peguei pensando em coisas que queria naquele momento publicar na net. Eu tenho tentado voltar ao propósito inicial, que é o de manter contato com pessoas que não estão por perto geograficamente. Ainda assim, tenho uma preferência pelo e-mail para conversar melhor com quem não vejo sempre pessoalmente devido a distância. :)

Jemima Schützer Lasso disse...

Gostei do texto, Norma! Muito oportuno e necessário! Eu desativei minha página no Facebook há alguns meses pois acabava gastando muito mais tempo em frente ao computador do que gostaria, muitas vezes com coisas sem importância. Raramente eu postava alguma coisa, mas gostava de ver atualizações e postagens de amigos e páginas que eu seguia. O problema então era o excesso de informações, que muitas vezes me interessavam realmente, mas não havia tempo para refletir sobre cada assunto profundamente,gerando uma superficialidade.
Só que agora, sem o Face, estou ficando muito tempo no Youtube. Deve ser o "Facebook dentro de mim" procurando outra forma de se manifestar =/

Anônimo disse...

Muito bom! Acredito exatamente nisso e também ajo da mesma forma. Aliás, a TV foi a precursora dessa insensibilidade, com seus jornais que variam da mesma forma da nossa time line e seus programas cheios de sensacionalismo em oposição às comédias que riem da desgraça alheia. Nossa mente deve ser preservada da invasão dos conceitos enlatados. O homem que não pensa no que ouve e lê é apenas um escravo.

adnna galdino disse...

Excelente texto, Norma. Estava conversando com Bruno, ontem, justamente sobre isso. Ao ligar o computador com o objetivo de concluir o meu TCC, dou uma passadinha no Face, quando me dou conta, o tempo passou, e o que planejei fazer não o fiz, pois o "fast food" é mais interessante. Que Deus nos ajude e continue te usando. Beijão.

Unknown disse...

Muito bom, essas são reflexões que compartilho é muito bem vindas em dias de tanto descontrole no uso dessas ferramentas. Sim, porque podem ser úteis, mas na mesma proporção podem causar muitos danos. Obrigada por ordenar as ideias!!! Fui tentada a compartilhas! rsrs

Anônimo disse...

Olá Norma, muito boa sua abordagem. Eu mesmo já tenho observado e até mesmo sendo tentado a tomar ações drásticas em relação ao FB. Lendo seu texto resolvi pensar mais sobre o assunto. Forte abraço.

Unknown disse...

Boa noite Norma, muito legal a reflexão. Realmente vivemos em tempos difíceis em terras virtuais. A importância dos relacionamentos tem sido diminuída no que se refere a interações pessoais e as redes sociais de "carne e osso" tem sido a cada dia abandonadas por óculos 3D. Devemos ser sóbrios mesmo. Obrigada pelo texto.