28 janeiro 2013

Enquanto não venho

Estou com crises diárias de enxaqueca há alguns dias, o que me impediu de escrever a postagem desta semana. Peço suas orações e, enquanto não venho, para não romper com a atualização semanal do blog, deixo com vocês o artigo de Solano Portela sobre a tragédia de Santa Maria, postado hoje, que espelha exatamente o que penso sobre o assunto. Boa leitura!



21 janeiro 2013

Quero trazer à memória


Há muito do velho paganismo em nós. Mesmo o mais racionalista dos seres pode manifestar uma ponta de irracionalismo quando, por exemplo, adia ad infinitum a visita ao dentista esperando inconfessadamente que o problema se resolva por si.

Mas, ao contrário do racionalista que às vezes se comporta de modo irracional, tenho uma personalidade naturalmente inclinada para o irracionalismo. Foi o que me levou a buscar Deus nos meios esotéricos, por exemplo, antes de me converter. Uma das manifestações mais dolorosas dessa inclinação é a presença de medos obscuros e inconfessáveis cuja irrealidade só é percebida com muito custo.

Cito alguns. Um pavor antigo, desde criança, era a possibilidade de ficar louca do nada, ou de bater a cabeça no chão em algum acidente e perder as faculdades mentais mais básicas. Derivava de uma pregação comum no esoterismo: a mente podia transformar os pensamentos em realidade. Uma vez convencido disso, tente dormir à noite enquanto seu cérebro fabrica os acontecimentos mais indesejados de sua vida.

Boa parte disso foi debelada com o trabalho do Espírito Santo em mim. Com poucos anos de conversão, pude identificar de imediato um inacreditável twist argumentativo em uma irmã que citou Jó para confirmar o ensinamento esotérico: “Aquilo que temo me sobrevém, e o que receio me acontece” (Jó 3.25) – um desabafo evidentemente descritivo. Se Deus não tivesse me transformado, sabe-se lá que tipo de síntese mística eu teria feito com o cristianismo.

Deus continua debelando em mim os medos mais tenazes. O processo de cura, como descobri, é exemplificado em Lamentações 3: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lm 3.21). Assim como o versículo de Jó, essa frase tem sido retirada de seu contexto para justificar uma esperança mundana, baseada na lembrança de “tempos melhores”. Mas relembrar o passado feliz em um contexto infeliz, além de nada garantir para o futuro, é uma verdadeira tortura autoinfligida. E pior: às vezes não há o que lembrar. Uma infância infeliz, uma cadeia de insucessos amorosos, o cotidiano de pobreza que atravessa gerações... Nesses casos, como o versículo se aplicaria? Percebe-se então que a ênfase do texto não pode estar nos fatos da vida. Mas onde estará?

Vejamos. Jeremias relembra o passado, mas um passado nada glorioso: “Eu sou o homem que viu a aflição pela vara do furor de Deus” (Lm 3.1), resume ele seus infortúnios. Todo o livro é uma grande lista de infortúnios, resultantes dos contínuos pecados do povo de Israel. Até que o versículo 21 do capítulo 3 inaugura a mudança de foco:
Quero trazer à memória o que me pode dar esperança. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se a a cada manhã. Grande é a tua fidelidade. A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele.
Onde Jeremias foi buscar esperança? Nenhum acontecimento pessoal é evocado, mas sim essa característica divina: o Deus de Israel é misericordioso. Caso haja arrependimento, Sua ira não dura para sempre. Jeremias sabia disso a partir do registro de tudo o que havia sido feito a seu povo até então. Hoje, também sabemos disso, primordialmente, pelo registro bíblico de tudo o que Deus fez nas vidas de Abraão, Moisés, Josué, Isaías, Paulo e de todos aqueles que, tendo sido alvo da grande misericórdia do Senhor, andaram com Ele. Assim como somos “enxertados” na família da fé (Rm 11), também ocorre conosco essa apropriação da vivência de outros: todo novo cristão, inicialmente sem referenciais para pensar e enxergar Deus, apropria-se das maravilhas do passado e as integra a seu horizonte. Quando não há lembrança pessoal dos feitos de Deus, a fé inaugura o processo e a Palavra entra como experiência adquirida.

Nova convertida, eu não tinha acesso à experiência direta com a cura divina de meus temores. Foi trazendo à memória o caráter de Deus, com o poder do Espírito Santo, que meu coração foi orientado para a segurança da onipotência do Pai sempre que pseudoverdades, tais como a do pensamento mágico e do poder da mente, ameaçavam me submergir. Em um processo longo, que durou anos (e ainda continua em alguma medida), grandes medos foram vencidos com a lembrança – em meio a grande choro e oração – de que toda a realidade está nas mãos dele. Diante de pecados recém-descobertos, é a partir da experiência adquirida biblicamente que precisamos clamar: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.” Não algum ponto de nosso passado, que no caso sequer existe, mas o foco no contínuo educar da mente para pensar toda a realidade – inclusive a realidade mais apavorante dos medos obscuros – segundo os conteúdos expressos em Sua Palavra: o que pode – é capaz – de nos dar esperança é o maravilhoso caráter de nosso Deus, atestado nos relatos de nossa fé e posteriormente, se o provamos (Sl 34.8), na nossa vida.

Racionalista ou irracionalista, sejam quais forem os males que o assediam, você deve se apropriar conscientemente dessa Palavra que agora, por causa do nosso enxerto na família de Deus, pertence-nos por completo, como parte da própria seiva que nos alimenta como galhos enxertados. Se não o fizer, sua esperança será puro saudosismo, sem apoio consistente algum.

Oro para que você faça isso, aplicando-a contra todos os seus pecados e em todas as suas aflições.

14 janeiro 2013

Resultado do Concurso Apologético!

Eis o resultado, enfim! Pedi a meu marido que me ajudasse na escolha. Selecionei as seis melhores e lhe mostrei, sem os devidos autores, para que ele não fosse influenciado por algum nome conhecido. Fiquei feliz ao ver que, das seis, a escolha dele foi a mesma que a minha.

Repito e expando aqui os critérios para a escolha, sobretudo por um propósito didático: quem sabe um dia você não será convidado para falar na televisão?

- Brevidade. Todos nós sabemos o quanto o Jô gosta de interromper os entrevistados e fazer piada. Aproveitar a "deixa" teológica da pergunta dele e falar o mínimo possível era fundamental. Li as melhores respostas em voz alta e percebi que alguns textos bons e coerentes não funcionariam ao vivo, na língua oral, por serem extensos demais.

- Linguagem acessível. Crente não resiste a um "teologuês". Precisamos tomar cuidado com isso: diante de uma plateia não-evangélica, o uso do nosso "jargão" só contribui para afastar o público do interlocutor.

- Foco na teologia. As perguntas do Jô foram eminentemente teológicas. Era o momento para colocar a preocupação com a alma dele (e dos espectadores) em primeiro lugar, deixando de lado as questões sobre a política, a liberdade de expressão religiosa ou as explicações científicas para o comportamento homossexual, por exemplo.

- Conteúdo essencial. Como as perguntas do Jô versavam sobre o que é o pecado, era necessário que a resposta mostrasse o esquema essencial do Evangelho (criação, queda e redenção) por dois motivos: mostrar que o pecado original se deu depois que Deus disse que "tudo era bom" (a criação) e apresentar a redenção como o único antídoto possível para o pecado.

Por isso, anuncio aqui que a resposta breve, acessível, isenta de digressões e fiel ao essencial do Evangelho (criação, queda e redenção) foi a do...

Thiago McHertt!

Parabéns, Thiago! Por favor, poste um comentário com seu endereço para envio do livro (não o publicarei).

Quero agradecer muito a todos os participantes! Foi uma honra receber tantas entradas em apenas uma semana. Também foi gratificante ler respostas que manifestaram a criatividade de alguns (Roberto Vargas Jr., Yago Martins, Hugo, Jônatas, Antônio Brito), a firmeza de outros (João, Luiz Renato, Cristiano), o carinho de outros (Pr. Samuel, Pr. Macena, Ivonete). Nenhuma resposta foi rejeitada para publicação.

Daqui a algum tempo, aparecerei com um novo Concurso Apologético. Não percam!

Republico aqui a resposta do Thiago:
Jô, tudo o que Deus faz é bom por definição. Logo, a criação é boa. Mas desobedecemos a Deus, e isso é pecado - e mau. Todos os homens nascem em pecado, ou seja, nascem da natureza caída de Adão. O pecado é o fruto da natureza caída do homem. Nesse sentido, se é verdade que alguém nasce homossexual, isso não o isenta do pecado, mas o confirma. E é nessa condição humana caída e pecaminosa que Deus ordena a mim, a você - Jô -, aos homossexuais e a todos os outros seres humanos "que se arrependam e creiam no evangelho".

Update importante: Um dos pontos mais fortes da resposta do Thiago ao Jô foi o fato de implicá-lo diretamente ("Deus ordena a você"), e isso é bacana porque gera uma reação pessoal. Creio que a apologética jamais deve esquecer que lida primariamente com pessoas, não com conceitos, ideias ou argumentos. Essa pessoalidade está presente em obras imprescindíveis dos maiores apologistas com quem podemos contar: Francis Schaeffer, C. S. Lewis, Cornelius Van Til e muitos outros.

07 janeiro 2013

Concurso: evangelize o Jô e ganhe um livro!

                                  Nesse trecho da conversa, Jô Soares questiona a "veemência" e a "postura quase medieval" da igreja de Crivella em relação ao homossexualismo. O entrevistado tenta permanecer no âmbito político, referindo-se à lei da homofobia e ao direito de expressão, mas Jô insiste no aspecto teológico do tema: "Se o homossexual já nasceu assim, como pode isso ser contra a natureza, se tudo o que Deus fez é bom?"

Agora é com você, leitor! Está lançado o Primeiro Concurso Apologético do blog! Coloque-se no lugar do entrevistado a partir do final do vídeo. Esqueça a política e transforme a entrevista em um encontro apologético. O que você diria ao Jô? Responda nos comentários - mas não esqueça, seja breve, pois você está na televisão! O autor da melhor resposta ganhará um livro meu autografado, A mente de Cristo: conversão e cosmovisão cristã. Ou, se já tiver meu livro, ganhará outro, que é surpresa!

Espero suas respostas!

Atualização: Postei nos comentários os critérios para desclassificar uma resposta. Se alguém tiver dúvidas, poste ali e eu responderei. Amigos também podem participar, mas prometo que tentarei ser imparcial na escolha da melhor resposta!

Atualização 2: NÃO DEIXE de ver o vídeo! Em um encontro apologético, você precisa prestar muita atenção ao que a outra pessoa diz para responder com sensibilidade e conhecimento de causa. Não elabore uma resposta somente com base na frase que eu transcrevi acima.