29 abril 2011

O oportunismo dos que mandam no país

Pouco tempo depois da tragédia na escola de Realengo, quando aquele rapaz desequilibrado matou doze crianças com uma arma de fogo, fiquei estarrecida quando li que os oportunistas de plantão começaram a usar a notícia para ressuscitar a questão do desarmamento.

Não se conformam com a decisão do povo, não é? E nem se importam com o péssimo gosto do procedimento, nem com o raciossímio por trás da lógica: “Se tem gente que mata, vamos sumir com os instrumentos que essa gente usa.” Teriam então que sumir com facas, pedras, cordas, automóveis… assim como faz a mãe que tem filho pequeno dentro de casa. Até quando seremos tratamos como imbecis enquanto os criminosos não são nem pegos, nem coibidos, nem punidos adequadamente?

Renato Pacca, colunista do Globo, tratou brilhantemente a questão aqui. Não deixe de dar uma olhada. Os comentários também estão brilhantes, inclusive o de um advogado que menciona uma repassagem de algumas armas (daquelas que foram entregues às autoridades por cidadãos de bem na campanha do desarmamento, lembra?) para criminosos. Sim, você leu direito! A campanha do desarmamento contribuiu para passar armas de cidadãos para bandidos. Isso diz alguma coisa sobre o que está por trás dessa obsessão com o desarmamento, não diz?

Tudo isso só mostra, mais uma vez, o que eu venho sempre dizendo aqui no blog: hoje, quem não superar os raciocínios rasos e ideológicos do Politicamente Correto vai ser devorado com batatinhas fritas por essas cobras que mandam no país e no mundo.

Não deixe de ler a esclarecedora entrevista no Mídia sem Máscara com Bene Barbosa, presidente do Movimento Viva Brasil.

23 abril 2011

Minha palestra na Vinacc - II

Nessa segunda parte da palestra, tratei de alguns conceitos da obra de René Girard (autor que é figurinha frequente no blog), conceitos que podem nos ajudar a compreender melhor nossa época. Autor católico pouco ortodoxo, com muita simpatia pelo protestantismo, Girard – talvez eu não tenha enfatizado o suficiente neste espaço – não pode ser lido sem reservas com relação à teologia. Em geral, sua teologia é confusa, com distorções por vezes bastante sérias. Porém, quando trata da antropologia cristã, ele é excelente, com intuições fantásticas sobre o espírito da contemporaneidade. O primeiro conceito que sempre exploro é o do bode expiatório, fenômeno estudado por ele em diversas sociedades que consiste no uso dos sacrifícios humanos como uma forma de purgar o mal dessas sociedades. Ele descobriu que muitas formas de organização social através dos tempos, desde as mais primitivas até as mais complexas, sempre apresentam esse processo: tribos escolhem arbitrariamente uma pessoa dentre o povo para encarnar o mal que é preciso combater; essa pessoa é morta e durante algum tempo a paz reina na comunidade. Uma das características mais importantes do mecanismo do bode expiatório é: o eleito para ser morto jamais tem uma culpa real. Ele não cometeu crime algum, mas uma determinada sociedade é levada a ver o Mal em determinada pessoa por motivos variados. Por exemplo, até hoje, aqui no Brasil, entre alguns índios da Amazônia, as crianças que nascem com defeitos congênitos são mortas, porque se acredita que aquilo é um sinal de malignidade, e que os espíritos vão atormentar a tribo caso aquela criança não seja morta. (Falei sobre isso aqui.) Esse é uma das expressões do mecanismo, que é sempre cruel.

Mas o mecanismo está presente também na nossa “avançada” civilização. Porque não nos livramos de tais loucuras com o progresso tecnológico, mas isto depende da cosmovisão religiosa de cada época. E, mesmo em uma época como a nossa, em que as pessoas mais intelectualizadas desprezam a religião e muitos não acreditam em Deus, existe uma visão sobre o bem e o mal que domina a sociedade. Embora a teologia de Girard seja confusa, sua consciência do pecado original é certeira. Ele afirmou o seguinte:

Crer na bondade inata do homem, fonte perpétua de desilusões, leva sempre à caça do bode expiatório.

Como cristãos, nós sabemos que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Ninguém entre nós é bom. Por isso, na conversão ao cristianismo, a primeira ilusão a ser desfeita é a da bondade inata do ser humano, e a fé sempre se inicia com o arrependimento dos nossos pecados. No entanto, o não-convertido costuma naturalmente acreditar na bondade inata do homem, ao mesmo tempo em que nutre uma visão muito pouco profunda do mal. Ele crê que somente alguns dentro da sociedade são maus e, como tem dificuldades para enxergar o mal dentro de si – e geralmente se guia pela lógica “não roubo, não mato, portanto sou bom” - , o mal só pode estar fora, nos outros. Então, a solução para o mal na sociedade passará necessariamente pela escolha de um bode expiatório: alguém que encarna o mal de toda a sociedade, alguém que é sempre inocente daquele mal específico. Girard afirma que o mecanismo do bode expiatório é sempre inconsciente: a sociedade, em um estado de cegueira extrema, não consegue perceber a inocência dos sacrificados, exatamente como as tribos indígenas não conseguem perceber a inocência das crianças doentes que são mortas. (Isso será ampliado com mais exemplos nas partes seguintes.)

E onde a antropologia de Girard dá as mãos ao cristiansimo? O sacrifício de Cristo é a morte do único ser inocente de todo mal que passou por esta terra. Somente Cristo poderia, como o único justo, morrer pelos pecados de toda a humanidade. A perversão inerente ao mecanismo do bode expiatório consiste na crença de que o escolhido para o sacrifício é de fato o ser que porta o mal, enquanto os sacrificadores são bons. Girard enfatiza que o mecanismo é insaciável: sempre surgem novos conflitos no seio da sociedade que “precisarão” de novos sacrifícios para ser aplacados. Já a Bíblia nos informa que, inocente, Cristo morreu de uma só vez por todos os nossos pecados reais: o inocente morre pelos culpados. Segue-se que o cristão pode enxergar, mais que qualquer outra pessoa, a crueldade dos processos de sacrifício do bode expiatório, alertando para a sede de sangue dos sacrificadores e para a inutilidade desse tipo de sacrifício, pois somente Jesus tem o poder de levar embora nossos pecados e matar todo mal, inclusive matar nossa morte, na cruz. Que você possa meditar nessas coisas neste domingo de Páscoa!

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Não deixe de ler o excelente texto de André Venâncio sobre a missão de Cristo, com muitas referências bíblicas, respondendo à pergunta de um amigo descrente. E aproveite para mostrar o texto nesta Páscoa aos não-cristãos que você conhece. Infinitamente melhor que oferecer chocolates! ;-)

14 abril 2011

Minha palestra na Vinacc – I e Twitter!

A primeira coisa que fiz, quando sentei à mesa para iniciar a palestra, foi perguntar à plateia: Qual é a religião mais perseguida no mundo na opinião de vocês?

As pessoas, muito participativas e simpáticas, logo exclamaram: o cristianismo. “É isso mesmo”, confirmei.

Uma organização católica — Aid to the Church in Need (Ajuda à Igreja Sofredora) — publicou no ano passado um relatório sobre a perseguição religiosa. Descobriu que o cristianismo é a religião mais perseguida no mundo, com duzentos milhões de sofredores por discriminação. O relatório identificou dois tipos de perseguição: por membros de outras religiões e pelo regime político. No primeiro tipo, a Ásia lidera o ranking, continente onde o islamismo é dominante. O segundo é composto de países comunistas: Cuba, China, Coreia do Norte, Vietnã e outros. O relatório também afirma que a liberdade religiosa em alguns países ocidentais está decrescendo: mesmo com a propalada liberdade do “Estado laico”, os cristãos são perseguidos principalmente por causa de símbolos religiosos e por posições pró-vida. Não por acaso, um foco gigantesco hoje de anticristianismo nos países democráticos são as universidades. Quem nunca sofreu discriminação no ambiente universitário por ser cristão? (Fiz essa pergunta à plateia e agora pergunto ao leitor. Difícil, não é? Todo cristão sabe o que é isso…)

Por que estou citando esses dados? Porque nós, cristãos, nunca nos vemos como vítimas. E é bom que seja assim. Nós somos filhos do Deus vivo, somos redimidos, lavados pelo sangue de Jesus. Não podemos nos colocar no papel de vítimas da sociedade. Colocar-se no papel da vítima e depois exigir seus “direitos” de modo a pisotear os direitos alheios tem sido uma estratégia cruel, com objetivos de incremento de poder, utilizada por muitos grupos ideológicos, principalmente os esquerdistas, as feministas, os adeptos da ação afirmativa e do lobby gay. É também o meio preferido dos terroristas modernos, que se justificam em seus atos violentos dizendo-se vítimas da sociedade e da história. Não podemos, de modo algum, imitá-los nisso — até porque não é nosso objetivo, nem deve ser, o aumento do poder social. Mas, paradoxalmente, de acordo com os fatos, nós cristãos somos vítimas de verdade. Temos sido vilipendiados e perseguidos de todos os jeitos, aberta ou veladamente, em todo o mundo. E como reagir a isso? Precisamos compreender o fenômeno por pelo menos três motivos: não podemos cair no conto da vítima desses grupos que pressionam por poder, nem adotar a mesma estratégia, nem nos confirmar voluntariamente no papel de culpados das mazelas humanas. Dar a outra face, nesse caso, seria continuar a testemunhar Cristo mesmo com todos esses obstáculos.

Ao longo dos demais posts, vou publicar o restante da palestra, em partes, tomando cuidado para não repetir conteúdos que já postei no blog.

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A novidade: com a ajuda do meu amigo Tiago Santos, já tenho Twitter! Sigam-me: @NormaBlog