25 agosto 2008

Julgar e discernir

Dois cristãos que se conhecem pouco estão conversando. Um deles conta algo que havia se tornado público: os recentes pecados em que caíra um líder famoso. No meio da conversa, o outro dá uma gargalhada. O primeiro pensa com horror: “Que absurdo, rir de uma coisa dessas. Pelo jeito o Fulano não se importa com os pecados dos outros.” O que riu percebe de súbito o estranhamento do primeiro e, um pouco constrangido, tenta justificar “Eu achei engraçado porque...”, como quem se desculpa depois de rir em velório.

Mas o primeiro permanece com suas impressões. “O Fulano não se importa com os pecados dos outros.” Isso é julgar.

Outra situação. Dois cristãos que se conhecem pouco possuem blogs. Querem se linkar, por amizade, mas um obstáculo se apresenta a um deles: o blog do outro é pouco edificante e, de quebra, está cheio de linguagem duvidosa e fotos obscenas. Ao mesmo tempo, experimenta certa angústia: “Estaria eu julgando?” O conteúdo, porém, fala por si: há algo errado na vida cristã de quem posta tais coisas despreocupadamente, sem pensar na possibilidade de escândalo. Cabe descobrir o que é.

Diante de um fato desses, quem se cala com o argumento “devo estar julgando” abstém-se de justas admoestações, impedindo que o pecado alheio seja reconhecido e coberto.

É assim que tem se comportado a igreja hoje: incapaz de fazer a diferença entre julgar e discernir, o cristão se vê de boca atada e não ajuda o irmão em erro. O pecado se multiplica em nome de um “amor” muito pouco bíblico, falso amor, mascarado sob os imperativos modernos da tolerância. Essa tem sido uma das maiores fraquezas da igreja hoje.

Que Deus nos ajude.
Post Scriptum - De fato, este post veio no momento certo: acabo de receber notícia sobre a matéria de capa da revista Eclésia deste mês. Ali, Brennan Manning e Philip Yancey são citados como apoiadores do movimento homossexual nas igrejas. Manning chega a dizer abertamente que é possível conciliar homossexualismo e cristianismo. (Só se for com o amorrrrrrrr politicamente correto, não o amor cristão, que confronta o pecador e salva sua alma da morte.) Em janeiro deste ano, escrevi que Yancey estaria "entre muros" por se render ao secularismo nesse aspecto. Não foi um ato de julgamento de minha parte, mas sim de discernimento; afinal, as palavras de Yancey não deixam muitas dúvidas sobre sua flexibilidade em relação ao homossexualismo. Repito aqui o mesmo desejo que expressei naquele post: não só que a ambigüidade em Yancey seja submetida em definitivo à Palavra, mas que a já tão confusa igreja brasileira saiba abandonar toda devoção idolátrica (há quem se refira a esses dois autores como "intocáveis") e se posicione firme em uma fé saudável e bíblica.

18 agosto 2008

Quintana é emo

Mario Quintana, para mim, é o poeta Hello Kitty, amado por nove entre dez adolescentes do sexo feminino que gostam de ler, bem, poesia. (Como só passei a gostar de cor-de-rosa depois de adulta, não era fã de Quintana nessa fase.) Tinha até um amigo que comprava todos os anos a Agenda Quintana só para escrever adendos humorísticos a cada poemeto.

Esses dias, para nossas boas risadas, outro amigo, Edson Camargo (do Profeta Urbano), sentenciou comigo por chat: “Quintana é emo!” Por exemplo, nada mais emo do que aquele famoso Poeminha do Contra, escrito sobre (ou para) seus desafetos que não o deixavam entrar para a Academia Brasileira de Letras:

“Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!”

É preciso reconhecer: o último verso clama por paródias! Foi o que começamos a fazer, frenética e gargalhadamente:


Versão Pit-Boy: “Eles passarão, eu passarei o pé na sua fuça”
Versão Louco para Imigrar: “Eles passarão, eu passaporte para os EUA”
Versão do Aproveitador: “Eles passarão, eu passo a mão na bolsa”
Versão Pasma: “Eles passarão, eu, tô passado!”
Versão Dadá: “Eles passarão, eu passo-ão”
Versão Dadá Internacional:
“Eles passarão, eu pussy cat

V
ersão Burro Assumido: “Eles passarão, eu pastarei”
Versão do Teimoso: “Eles passarão, eu passo não”
Versão Toca do Coelho: “Eles passarão, eu, paçoquinha”
Versão Centro Cultural: “Eles passarão, eu Paço Imperial”

E as bíblicas:


Versão Crente Educado: “Eles passarão, eu, paz do Senhor, irmão”
Versão Moisés no Egito: “Eles passarão, nós, sejamos cautelosos, soldados egípcios”
Versão Evangelista Avivado: “Eles passarão, nós iremos por todo o mundo e pregaremos o Evangelho a toda criatura!”

A brincadeira não tem fim. Aguardo novas versões na caixa de comentários!

17 agosto 2008

Travada

Estou travada. As idéias continuam pululando mas, se não aparecem aqui, a culpa é toda sua, leitor. Ah, sim. Porque, se vou desenvolver um texto sério, careço de tempo para árduas pesquisas bibliográficas e extensas notas de pé de post (você sabe, leitor, que trabalho demais - sou profissional de Letras), e não quero ser acusada de leviandade; se vou escrever uma bobagem divertida, bate o receio de ler reclamações mais compenetradas ("seu blog já foi melhor", "seu blog não abençoa como antes" etc.); se vou simplesmente postar uma música, lá vem um comentário para me convencer a largar o vício da pirataria.

Enfim, idéias há, mas me sinto como cachorro novo nas mãos de donos ignorantes: os comentários negativos têm me treinado negativamente. O resultado é que guardo tudo para mim. E minhas leituras correntes - Notes towards a definition of culture, T.S. Eliot; The Good of Afluence, John R. Schneider; Os irmãos Karamazov, Dostoiévski; As origens do totalitarismo, Hannah Arendt - só abençoam a mim mesma, porque não mais ouso falar despreocupadamente, na amizade, sobre as coisas que ocupam minha cabeça.

Ok, ok, eu sei, a culpa é minha. Mas Deus ainda há de me ensinar a confrontar, a ser contracultura direito, a não receber um comentário pesado como um tapa na cara ou um pisão no pé.