29 dezembro 2006

Saudades de blogar, ou: Mensagem de Ano-Novo

Saudade de blogar. O recesso parece que vai perdendo seu poder de veto, de barricada contra os movimentos espontâneos da escrita, e uma vontade imensa de voltar a me ensaiar aqui - todo texto é um ensaio de algo maior que vai dentro da gente e nos transborda, sem se deixar capturar - faz com que eu venha dessa vez, sem no entanto prometer a mesma assiduidade de antes, face aos compromissos que assumi e que devo comprometidamente, concentradamente, seguir até o fim.

Mas Cassandra Wilson me pegou, Affonso Romano de Sant'Anna apareceu na tv e eu me vi aqui, querendo fazer o que mais gosto de fazer na vida, exercendo um dos poucos talentos que tenho sem expectativa alguma de recompensa a não ser o prazer, a alegria, a satisfação com o que surge depois do esforço. Mostrando a mim mesma e aos que me lêem o lugar central que este blog tem na minha vida - por me possibilitar, apenas, a prática daquilo para o que (imagino, Senhor) fui talhada acima de tudo.

O que me desvia deste blog é um trabalho de poesia e música, exatamente aquilo que me fez voltar hoje aqui, sem que eu tivesse a mais remota possibilidade de resistência. Poesia e música, juntas, um casal inseparável, segundo o meu Meschonnic. Tenho que dar conta disso. E da minha escrita, dos meus desenvolvimentos, minhas leituras.

É assim que eu ameaço começar meu ano de 2007: com a conciliação e o esforço conjunto de poesia e música trabalhando ouvidos, olhos e intuições. Seus e meus. E é assim que desejo seu ano de 2007: ano de consciência e centralidade de seu talento (sempre os há), junto a uma necessidade imperiosa de clareza interna e externa. Clareza tal como a define João: "a verdadeira luz, que ilumina a todos os homens" (Jo 1:9)

Feliz Ano-Novo!

24 dezembro 2006

Mensagem de Natal 2006

Inspirada por Desert Song, de Stanley Clarke, e por uma versão swingada e alegrinha de White Christmas, rompo o recesso - que deve se estender por mais seis meses, mas não se preocupem, eu volto - para escrever esta mensagem de Natal a todos os meus queridos amigos e leitores que me acompanharam neste ano de 2006.

O que mais posso lhes desejar? O que desejo para mim mesma: que a Verdade, que é Jesus Cristo, jamais seja perdida de vista. Que, em meio a presentes mil, Papais Noéis e penduricalhos de Natal, você possa imaginar aquele bebê na manjedoura e pensar no que seríamos sem Ele. Que você possa sobretudo meditar nas afirmações graves e extraordinárias Daquele que se dizia Filho de Deus, enviado pelo próprio Pai para salvar o mundo:

"Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei." (João explica: Ele se referia ao santuário de seu próprio corpo.)
"Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida."
"Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva."
"Se vós permanecerdes em minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. (...) todo o que comete pecado é escravo do pecado; (...) se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres."
"Quem crê em mim crê, não em mim, mas naquele que me enviou. E quem vê a mim vê aquele que me enviou. Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo, porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo. Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia. Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e anunciar."
"Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, e ninguém vai ao Pai senão por mim. (...) Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei. Se me amais, guardareis os meus mandamentos."
"Como o Pai me amou, assim eu vos amei; permanecei no meu amor. (...) O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei."

E muitos dos que O ouviam diziam:

"Sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo."

Que neste Natal esta também seja a sua certeza, arraigada no fundo do coração!

Um abraço caloroso!

Norma Braga

31 outubro 2006

Recesso

Por motivos particulares, este blog entra em recesso hoje até janeiro do ano que vem.

Quem me conhece sabe o motivo. Nada sério. Apenas preciso de todo o tempo possível para completar uma tarefa sumamente importante. E cada post aqui me toma horas de reflexão, pesquisas, burilamento textual. O que faço sempre com grande alegria e prazer, mas tenho estado culpada por deixar a tarefa de lado.


Você pode continuar postando comentários. Há muita coisa para se ler. Aliás, você já deu uma olhadinha na coluna à direita? Alguns artigos ali estão entre os textos de que mais gosto.

Tenho uma mailing list em que aviso sobre as postagens. Se quiser ser incluído nela para saber quando o blog entrará de novo na ativa (entre janeiro e fevereiro), você pode escrever seu mail nos comentários que enviar a este post. Eu os recusarei para que seu endereço não seja divulgado, e o incluirei na mailing list.

Mal posso esperar para voltar a escrever no blog sem culpa! :-)

Aos leitores queridos (eles sabem), um grande abraço e até o ano que vem!

Norma Braga


P.S.1 Não deixe de ler dois de meus blogs preferidos: Reinaldo Azevedo (que está animadíssimo no papel da oposição) e O Tempora, O Mores (sempre pertinente em teologia).
P.S.2 Se houver algo importante que eu não consiga deixar de registrar aqui, o recesso será rompido. Mas apenas em caso especialíssimo.
P.S.3 E que Halloween, que nada! VIVA O DIA DA REFORMA!

28 outubro 2006

Contra Lula, confiem no polonês

Sindicalista que se tornou Presidente da Polônia, Lech Walesa teria tudo para ser equiparado a Lula. Porém, não só as lutas de ambos estão em franca oposição, mas suas estratégias diferem de modo fundamental.

Por amor e não pela força

Inteiramente pacífica, a virada polonesa para a democracia já foi citada como uma das grandes vitórias sem o uso da violência de que se tem notícia na história mundial, ao lado da luta pelo fim do apartheid sul-africano (que só deu certo depois que se substituíram os tiros por boicotes econômicos) e norte-americano.

O caso norte-americano merece um parágrafo. Para acabar com a delimitação racista de espaços – e com a terrível tradição das placas em que se dizia “Proibida a entrada de cachorros e negros” –, o Rev. Lawson, pastor batista, bolou em setembro de 1959 uma incrível estratégia não-violenta: a ocupação silenciosa de lugares públicos permitidos apenas a brancos. Antes das ações, membros da igreja eram treinados durante algum tempo por voluntários brancos que se dispusessem a xingá-los e até empurrá-los, para que eles conseguissem ficar emocionalmente imunes às reações. O movimento cresceu, e foi tanta gente “invadindo” tranqüilamente restaurantes e lojas que, assim que a polícia, atônita, conseguia retirar dos locais aquelas pessoas mudas e quase inermes, uma nova e vasta leva tomava os mesmos locais minutos depois das prisões. Em menos de um ano, a segregação começou a ruir por si.

Com Lech Walesa não foi diferente. Em pleno regime comunista na Polônia, o cristão Walesa criou o movimento sindicalista Solidariedade para tentar restabelecer a democracia no país. (Observação: não confundir a acepção universal de “democracia” com o simulacro petista do termo, que geralmente significa “política revanchista com base no ódio de classes”.) Não foi uma “anti-revolução” por meio de armas, mas sim de um programa bem-sucedido de greves continuadas e muita mobilização popular. Mais tarde, ele diria em entrevista no Brasil que é muito mais difícil criar o capitalismo a partir do comunismo que o contrário. "O capitalismo não é um bom sistema, mas ninguém inventou coisa melhor", fez a ressalva. Essa tem sido também minha posição neste blog.

O fato é que Walesa foi coerente com seu anticomunismo e sua defesa do mercado. Quando assumiu a presidência, foi assessorado por Jeffrey Sachs, economista americano, para dar um verdadeiro “banho” de capitalismo na Polônia, de uma vez só: era a teoria do “big bang”, segundo Sachs. Assim, o presidente Walesa cortou todos os subsídios industriais, implodiu tarifas de importação, privatizou bancos e criou instituições capitalistas. Se o resultado imediato foi desastroso – a produção caiu, o desemprego dobrou – , hoje se reconhecem os resultados positivos dessas medidas: média de crescimento do PIB próxima a 5% ao ano, renda per capita de US$ 4,3 mil e inflação, que era de 70% ao ano, totalmente controlada, passando a 5% em 2001.

"Até hoje só a economia de livre mercado provou funcionar”, afirmou ele ao entrevistador brasileiro. “O que não significa que tudo nela seja bom. A sociedade polonesa não quer construir o capitalismo sem crítica. A Polônia quer fazer o sistema polonês, sem os erros nem do sistema capitalista, nem do socialista."

Quanto a Lula, Walesa declarou em 2005: "Eu previ que Lula seria presidente. Eu o conheço, nós já conversamos, mas sempre caminhamos em direções contrárias." Acrescentou ainda, inequivocamente, que Lula quer implantar o comunismo no Brasil.

É estranho que tantos brasileiros se recusem a acreditar em algo que um ex-sindicalista, expert em assuntos de comunismo, afirma com tanta tranqüilidade e certeza. Os dois se conheceram em 1981 em Roma, e Walesa já falara a Lula sobre sua aversão a regimes comunistas, sem encontrar eco no sindicalista brasileiro.

De lá para cá, Lula também tem sido coerente em seu comunismo. Dizem que a política econômica ainda não sofreu mudanças significativas, mas são muitas as atitudes do governo brasileiro que corroboram o totalitarismo sempre presente nesses regimes: o centralismo, o aparelhamento do Estado pelo partido, as políticas restritivas para calar a oposição – proposta da ANCINAV, controle da internet, ameaças e sanções a jornalistas como Boris Casoy, repressão ao homescholing, compra de deputados e veículos de comunicação – e o mistério que cerca casos como o assassinato do prefeito petista Celso Daniel, que segundo a própria família foi “apagado” por se recusar a participar de um esquema de corrupção. Essa história é especialmente horripilante: boa parte da família de Daniel mudou-se para outro país e nada menos que sete testemunhas morreram em circunstâncias estranhas. Isso tudo é conhecido do país, mas uma nuvem de silêncio e indiferença paira sobre esses fatos.

Se tudo indica que Lula será reeleito, este post é uma tentativa de contribuir para que o brasileiro pense ainda mais uma vez antes de colaborar para a reeleição de um homem no mínimo controverso, não só figura de proa em um partido que não conhece limites para se manter no poder – e dificilmente alheio a seus métodos escusos – , mas defensor de um regime que a tantos calou e matou através da história, ao lado de expoentes como Fidel Castro e Hugo Chávez. Se você preza pela verdadeira democracia, aquela que não usa de força nem desonestidade e tampouco criminaliza a expressão individual, não vote em Lula.

Leia ainda: Cem motivos para não votar em Lula. Os itens em vermelho são os fatos que se correlacionam mais intimamente com o totalitarismo comunista.

20 outubro 2006

A multidão manda pular

Não temais, nem vos assusteis por causa desta grande multidão,
porque a peleja não é vossa, mas de Deus.
(II Crônicas 20:15)
A fé cristã exalta o indivíduo que resiste ao contágio vitimário.
(René Girard)
Conselho sábio, o de David Bowie:
Não dê ouvidos à multidão, ela manda pular.

Hoje, o pensamento de esquerda é obrigatória unanimidade, e a simples menção favorável à “direita” ou o mais leve sinal de recusa a conteúdos sinistros, mesmo quando acompanhados de argumentos, atraem reações padronizadas: “nazista”, “fascista”, “reacionário”. É quando a boca se presta a obedecer ao automatismo de uma programação feita em tempos imemoriais, na escola, na mídia. O sujeito que pronuncia os impropérios não se dá conta do despropósito de chamar de seguidor de Hitler ou Mussolini, ou retrógrado, quem quer que denuncie a imposição estatal sobre a liberdade individual ou reclame do domínio de mentes e corações por uma ideologia monocromática, cega para a singularidade e para as nuances. Diante de alguém único, a ideologia de esquerda sempre mandará exclamar: antes de ser humano, você é pobre, ou mulher, ou negro, ou gay, e deve servir aos interesses da luta de classes, do feminismo, da ação afirmativa, do politicamente correto.

Satisfeito por “pertencer”, quem recebe esse mandato se refestela na agradável sensação de conforto e legitimidade que o grupo confere, servindo como simulacro de família e causa ao mesmo tempo. Não é nem necessário estar filiado a um algum partido de esquerda: de fato, a pressão mais eficaz é a distraída, impensada, fiel a regras quase indefiníveis. É assim que o corpo do militante inconsciente reverbera a reação aprendida com sincera indignação, o que deixa o outro ainda mais confuso. A repetição das palavras a cada idéia expressa – nazista, fascista, reacionário;nazista, fascista, reacionário – só condensa no espírito do alvo dissidente a óbvia conclusão: superou-se o regime totalitário explícito, que usa violência física, pelo regime totalitário implícito, por meio da programação mental (neurolingüística?). Cada cidadão se torna, nessa segunda modalidade, o vigia e cruel verdugo do outro, tal como no mundo imaginado por George Orwell. Facilmente manejável, a multidão é uma força imbatível contra o indivíduo, que pode recuar por puro mecanismo de auto-sobrevivência emocional.

Mas a Bíblia não é coletivizante. Pelo contrário, nela se denunciam as coletividades como fomentadoras da uniformização do mal. Em Êxodo 23: 2, Deus diz: “Não seguirás a multidão para fazeres o mal; nem numa demanda darás testemunho, acompanhando a maioria, para perverteres a justiça.”

De fato, a multidão estava presente como força coativa na negação de Pedro; estava presente para mandar matar Jesus aos alegres gritos de “crucifica! crucifica!”. A multidão está sempre presente quando alguém arrisca suicidar-se pulando de um prédio. É quando todos gritam: “pula!”.

Para desafiar o impulso homicida da multidão, Deus nos alcança individualmente, através da vitória pessoal de um único, Jesus Cristo. Em João 16:33, Jesus diz: “No mundo tereis aflições, mas eu venci o mundo.” O “mundo”, força uniformizante do pecado, é confrontado por sal e luz (Mateus 5:13-15): a luz ilumina e dissipa mentiras, dissimulações, confusões mentais; o sal não só dá sabor, transformando a adesão automática em firmeza de postura, mas, em pleno mundo caído, impede o avanço da destruição.

Mas isso só é feito a partir da renovação interior – “novo nascimento” – que o próprio Cristo opera em cada um que se propõe a colocar sua vida nas mãos Dele, a única autoridade absoluta e boa. Nele, nós nos libertamos do poder que as multidões têm sobre nós, pois só Ele é nosso mediador com o Pai, mais ninguém. Nele, não somos engolidos pelo grupo: o equilíbrio entre individualidade e vida em comunidade é restaurado pela unidade em Cristo, na medida em que, ao imitá-Lo, não estamos mais submissos ao imperioso impulso de ser igual ao outro para pertencer. Somos de Cristo, e isso nos basta. A programação uniformizante perde assim seu sentido, sendo substituída por vida verdadeira.


Leia mais:
Entrevista sobre René Girard e o desejo mimético

15 outubro 2006

Da série Posts Comentados I – Ed René Kivitz

Por trás das tragédias

Fiz visitas pastorais a duas mulheres que vestem luto. Lá pelas tantas uma delas disse entre lágrimas: “Deus deve ter as razões dele para levar meu filho, mas está difícil de entender”. Após um silêncio cauteloso e respeitoso, perguntei se ela considerava a possibilidade de Deus não ter tido razão alguma na morte de seu filho. Ela aquiesceu e enxugou os olhos, como quem diz, “é, você tem razão, Deus não tem nada com isso”.

O quadro que Ed René nos apresenta nesse post é mesmo desalentador. Tendo sofrido males semelhantes, no momento da tragédia penso: eu confiava em Deus, mas Ele permitiu que coisas horríveis acontecessem comigo, tal como permitiu a Jó – morte de parentes, destruição do meu corpo por meio de doenças ou acidentes, perdas financeiras devastadoras, encontros com pessoas que puseram minha vida de cabeça para baixo e quase me levaram à loucura. Tais coisas acontecem mesmo com quem coloca sua confiança Nele, é o meu escândalo.

O momento me apresenta duas opções. Na primeira, eu me conformo com minha ignorância: Deus é soberano e eu não conheço Suas razões. Mas O amo, e um dia saberei. Precisarei de paciência e uma confiança quase cega – semelhante à que levou Abrãao ao monte com seu único filho para ser sacrificado a Deus, que o pedia; semelhante à que levou Jó a não seguir o conselho cruel de sua esposa, “Amaldiçoa Deus e morre”; semelhante à de Paulo quando foi preso, chicoteado, desprezado até por irmãos de fé. Em tudo isso, entrego o sentido da minha vida Àquele que a possui, Àquele que a tudo possui.

Nessa primeira opção, descanso nas palavras sagradas:

“Porque o domínio é do Senhor, e Ele reina sobre as nações” (Salmos 22:28): Deus é o Senhor da história. Se Ele sabe administrar as nações, quanto mais minha própria vida, pois sou Dele.

“...no teu livro foram escritos os dias, sim, todos os dias que foram ordenados para mim, quando ainda não havia nem um deles” (Salmo 139:16): Em Deus - criador e não criatura, único habitante da eternidade, para quem não há tempo - , todos os dias de minha vida estão debaixo de Seus olhos. Portanto, quando não compreendo por que o mal me sobrevém, espero, e deixo que minha vida faça sentido Nele.

“Não se vendem dois passarinhos por um asse? e nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos” (Mateus 10:29-31). Jesus nos dá a garantia de que mesmo os menores fatos de nossa vida – simbolizados aqui pelos “cabelos contados” – estão debaixo do domínio do Pai.

“Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33). Jesus não nega que o sofrimento virá, mas garante a vitória final por causa de Sua vitória. Deus não deseja intencionalmente que o homem sofra, mas vivemos em um mundo caído: nem Seu próprio Filho foi poupado de passar por aflições. Nossa garantia não é a ausência do mal, mas a vitória final do bem, garantida na vitória de Jesus sobre os poderes das trevas e sobre o mal maior, a morte.

Porém, há a segunda opção: declarar que Deus não é soberano e que Ele fechou os olhos no momento da minha tragédia, deixando-me sem proteção alguma, entregue a um mal sem sentido. Acolho assim, nessa hipótese, um Deus menor que meu próprio pai terrestre – que, se pudesse ter feito algo para evitar minha dor, não hesitaria. Assim, o autor dessas linhas diminui Deus ao dizer:

Assim acredito. Afirmar que Deus tem lá suas razões por trás das tragédias equivale a atribuir a Deus a causa de tais tragédias. Algo como Deus decidir dia e hora de virar nosso mundo de pernas para o ar, movido pela firme convicção de que tem algo a nos dar ou ensinar ou um lugar onde deseja chegar às custas de nosso sofrimento.

Afirmar isto é negar o Senhor da história. Ora, Ele não é a causa das tragédias: o mal que veio ao mundo por causa do pecado, sim. O papel de Deus em um mundo caído não é retirar todo mal deste mundo imediatamente – isto é para o fim dos tempos – , mas sim administrá-lo segundo seus desígnios, aos quais muitas vezes não temos acesso.

A pergunta que me faço é, afinal de contas, o que Deus quer fazer em mim, comigo, por mim, através de mim ou contra mim que pode ser mais importante do que a vida do meu filho? Não encontro qualquer resposta suficientemente razoável para acreditar que Deus precise sacrificar vidas por minha causa. Aliás, Deus já sacrificou a única vida que precisava de fato ser sacrificada por minha causa. O Calvário foi testemunha.

A vida de Jesus foi sacrificada aos homens desde a fundação do mundo, não só para que a criação fosse garantida após da queda, mas para que houvesse redenção. Crer em um Deus que não administra o mal nas vidas individuais também é crer em um Deus impotente para livrar o mundo inteiro do mal. Ou Ele é soberano de verdade, ou não é Deus. A vinda de Seu Filho é o fato mais importante que atesta Sua soberania: Ele sabia que o mal e a morte entrariam no mundo por causa do pecado e providenciou sua retirada. É quando nos convida para desviar os olhos das tragédias que ainda ocorrem e contemplar a redenção final – algo difícil, sim, mas não impossível. É por Sua graça que recebemos as palavras de Jesus: “Tende bom ânimo, eu venci o mundo.”



Negar a soberania de Deus porque não entendemos o que nos acontece é o mesmo que dizer: "Se não entendo o sentido disso, é porque não há." É sobretudo admitir a falha de Deus: não na causa do mal, mas na ausência.

Essa recusa de reconhecer e descansar na incognoscibilidade dos desígnios de Deus é muito emblemática no Livro de Jó. Depois que os amigos de Jó tentaram convencê-lo de que seu sofrimento se devia a pecados ocultos, Deus se revela e diz a eles: "não tendes falado de mim o que era reto" (Jó 42:7). O que exatamente não era reto nas palavras dos amigos? Eles diminuíram Deus ao dizer que Ele só agiria em correspondência aos atos de Jó. Em suma, é como se tivessem dito que Deus só poderia agir assim: "Se fores bom, Ele te abençoa; se fores mau, Ele te pune." Crendo assim, tornavam a independência de Deus em dependência do homem, como se Deus só agisse em conformidade com o que o homem faz. Negavam assim não só a existência do Deus da graça comum, que "faz chover sobre justos e injustos" (Mateus 5:45), mas do próprio Deus da redenção: se Ele premia os bons e pune os maus, não há esperança para os maus, e todos somos maus - eis a verdade do pecado original que ressurge com força em Paulo: "Todos pecaram, todos carecem da glória de Deus" (Romanos 3:23).

Por isso Deus se revela em toda a Sua força e poder para Jó, que exclama: "...falei do que não entendia; coisas que para mim eram demasiado maravilhosas, e que eu não conhecia. (...) Com os ouvidos eu ouvira falar de ti; mas agora te vêem os meus olhos." (Jó 42:2-5) A visão de Jó sobre Deus ganha assim um foco mais acurado: Ele é muito maior que nossas ações humanas, e age conforme crê necessário. Não tem prazer no mal, mas o administra de um modo que "tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus" (Romanos 8:28). Essa é nossa real esperança diante do sofrimento.

"Falei do que não entendia; coisas que para mim eram demasiado maravilhosas, e que eu não conhecia": que o autor do blog "Outra Espiritualidade" possa um dia exclamar isto a Deus, é minha sincera oração.

09 outubro 2006

A história se repete: Outra Espiritualidade

Quando os arquifamosos pregadores Ricardo Gondim e Ed René Kivitz abriram um blog chamado Outro Deus, com fumaças de Teísmo Aberto e outras distorções teológicas, escrevi alguns comentários, exercendo ali uma quase solitária discordância e sinceramente esperando por respostas. Uma semana depois, qual não foi a minha surpresa quando fecharam o blog, alegando não terem sido compreendidos (a história toda está aqui e aqui).

Hoje de tarde, dia em que trabalho em casa, Gustavo Nagel me escreveu sobre o novo blog do Ed René Kivitz, Outra Espiritualidade (é uma verdadeira obsessão essa coisa do outro), para mostrar os comentários dele e do André Scordamaglio, além da reação das kivitzetes de plantão. Animei-me e resolvi postar um comentário também, com algumas perguntas. Qual não foi a minha surpresa quando, apenas horas depois, Gus me chama no messenger para dizer “Ele acabou com os comentários!”, em um post chamado Bem-vindos à mesa. A contrapartida nada sutil é que os que chegam para questionar não são bem-vindos. Bonito, hein?


Bom, os fatos falam por si. Mas não resisto e acrescento: tanta insistência em “outro” – “Outro Deus”, “Outra Espiritualidade” – e tanta adesão ao discurso moderno da alteridade não significam nada para nenhum dos dois. Quando se trata de pôr as idéias à prova e confrontar mesmo os “outros outros” que eles rejeitam, Gondim e Kivitz fogem correndo da raia, mostrando que não pretendem retribuir a mesma abertura que advogam para si. Apóiam-se em declarações como a de Brennan Manning, “amar aos outros independentemente de religião ou cultura”, mas, na hora de um simples confronto de idéias por internet, agem como puros stalinistas, limando peremptoriamente do território deles a palavra do argumentador que incomoda. Depois, queixam-se do tratamento que recebem do meio evangélico, dizendo-se “vítimas do sistema” em seus artigos. Ou seja, produzem repetidamente um discurso provocador contra o status quo tradicional protestante, ganhando ampla adesão por isso (hoje em dia, o “rebelde” tem fama imediata), mas não são corajosos o suficiente para sustentar as bravatas teológicas em seus próprios blogs - algo que qualquer seminarista de vinte e poucos anos consegue fazer. É assim que querem pregar sobre alteridade?


Mas chega de lenga-lenga e vamos aos textos:

Nosso destino (posto na íntegra porque, nunca se sabe, Kivitz pode ainda querer acabar com o blog):

Uma das coisas mais estúpidas que já acreditei em termos de religião foi que a composição da população do céu podia ser mensurada pelo número de pessoas que dissessem sim a um apelo de conversão a Jesus Cristo feito nas bases da tradição do cristianismo protestante evangélico anglo-americano. Traduzindo: se você acredita que irão para o céu somente as pessoas que aceitam a Jesus como salvador depois de ouvir o evangelho pregado a partir da cultura anglo-americana, então você está em apuros: o seu céu é pequeno demais; o seu Deus é pequeno demais; o seu Cristo é pequeno demais; o seu evangelho é pequeno demais; o seu Espírito Santo é pequeno demais; o seu universo de comunhão é pequeno demais; seu projeto existencial é pequeno demais; sua peregrinação espiritual é pequena demais.É urgente que se articule uma outra maneira de convocar pessoas para que se coloquem a caminho do céu. Uma convocação que considere que “nem todo o que me diz Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus” – palavras de Jesus. Uma convocação que re-signifique o conceito de céu, que deve deixar de ser um lugar geográfico em outro mundo para onde se vai após a morte, para significar uma dimensão de relacionamento com o Deus Eterno para a experiência contínua do processo de humanização: estar em Cristo, ser como Cristo, ser Cristo. Com isso quero dizer que o convite para aceitar Jesus como salvador como credencial para ir para o céu não é a melhor convocação. A melhor convocação é um chamado para se tornar uma outra pessoa. A peregrinação espiritual cristã não é uma migração de um lugar para outro, mas de um estado de ser para outro. Nosso destino não é o céu. Nosso destino é Cristo. E tenho certeza de que muita gente vai chegar lá mesmo sem nunca ter ouvido o plano de salvação desenvolvido pelos teólogos sistemáticos anglo-americanos.

Meu comentário (que refiz de cabeça):

Para mim, foi uma surpresa negativa o fim do blog Outro Deus, onde postei algumas perguntas que jamais foram respondidas. Parece que Gondim e Kivitz, seus autores, não costumam ser como a maioria dos blogueiros. Porém, se Kivitz comparecesse aqui para dialogar com seus leitores, eu lhe faria algumas perguntas:

- O que é exatamente “o evangelho pregado a partir da cultura anglo-americana”?

- Será mesmo que todo mundo na igreja pensa que o céu é um lugar? E, ainda que isso seja verdade, a Bíblia não dá margem para isso nas próprias palavras de Jesus: “Irei preparar-vos lugar”, “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”? Assim, qual seria a vantagem de suprimir essa interpretação de “lugar”, já que a outra, de mudança interior na conversão e presença de Cristo, também é abundante na Bíblia?

- Considerando que "aceitar Jesus como salvador como credencial para ir para o céu" é uma simplificação da conversão cristã (e não acredito que muitos neguem isso), você não acha que sua proposta para um melhor chamado, "para se tornar uma outra pessoa", é redução maior ainda, por confundir-se com a transformação interior que todas as religiões costumam reclamar para si? Não estaria, assim, advogando a troca de uma simplificação por outra menos rica ainda e de difícil identificação com a fé cristã? A salvação ainda se relaciona com a necessidade de arrependimento; a transformação interior é apenas uma necessidade íntima, subjetiva, que não se associa a uma dívida real que temos com Deus por causa do pecado. Será que sua proposta de mudança discursiva não aponta para uma rejeição dessas noções básicas do cristianismo?

Não tenho como especular muito sobre a teologia kivitziana e seu possível distanciamento do cristianismo bíblico. Porém, tenho todo o direito de perguntar: será que a ausência de resposta à última pergunta significa um relutante "sim"? Como saber com certeza, se o autor do blog se recusa ao diálogo? E sim, para todos os efeitos, isso aqui é um desafio ao debate.

04 outubro 2006

James Houston ao vivo na internet


James Houston é um dos pensadores evangélicos que mais admiro, e realmente o tenho como um grande modelo. Muito erudito, trabalha com o que chamamos de cosmovisão cristã e crítica da cultura, um terreno ainda pouco explorado pelos evangélicos. Suas palestras costumam ser um verdadeiro caldo grosso de explanação teórica dos autores mais importantes de todos os tempos. Realmente não creio que o mundo evangélico hoje conte com alguém como James Houston. Ele se assemelha a um C.S. Lewis quanto à apologética e à relevância universal das grandes questões humanas, sempre presentes no que diz ou escreve.

Apesar da idade avançada e da saúde frágil, ele sempre viaja ao Brasil para conferências. Está esses dias em São Paulo para palestras a partir de hoje, às 16h, até o dia 6 de outubro. E essas palestras serão transmitidas ao vivo pela internet, através do site http://www.lifestream.com.br, sempre nos mesmos horários:

Dias 4, 5 e 6 de outubro
início 16h
retorno do coffee-break às 18h
intervalo às 19:00
retorno às 20:00
final 22:30

Não perca a chance ímpar de ouvi-lo! E depois venha postar comentários aqui.

02 outubro 2006

Post comemorativo pós-eleições


A capa de Veja que todos gostaríamos de ver.

Vamos às boas notícias!

Jandira Feghali perdeu, e perdeu feio, para Dornelles: 45,86% contra 37,54%. Já era uma senadora a favor do aborto! Viva!!!

Gosto de pensar que o Flor ajudou nesse feliz resultado, mas creio mesmo que foi a repercussão negativa do episódio do Arcebispo do Rio de Janeiro que empurrou Jandira ladeira abaixo. O povo brasileiro não gosta dessa história de aborto por qualquer motivo, e o atentado à liberdade de expressão religiosa só contou pontos contra ela. Bem-feito! Foi conseqüência do próprio veneno. Que sofra ainda muitas derrotas políticas e nunca, jamais, tenha a chance de ver implementado aquele nefasto projeto. É minha sincera oração.

Outro motivo para festa é o segundo turno para presidente! Em média com 48% dos votos contra 40% para Alckmin, Lula terá de se conformar em competir uma segunda vez. Ufa!

Para presidente, os números da última apuração a que assisti impressionam: Lula perdeu de lavada no Sul (54,9% X 34,9%) e no Centro-Oeste (51,6% X 38,5%), mas é suplantado com pouca diferença por Alckmin no Sudeste (45,2% X 43,3); analistas na TV já falam em maior "frouxidão moral" nessa região. O petismo por aqui é um monstro difícil de abater, principalmente entre a elite universitária; mas eu ainda espero que esteja agonizando. Já no Norte e no Nordeste, Lula tem perigosas vitórias (56,1% X 36,2% e 66,7% X 26,1%), o que só prova a tendência populista desse governo (que alardeia ser "mais fácil governar para pobre") e a importância da internet. Se essas duas regiões não fossem as mais pobres do país - e portanto sem a cultura da internet - , duvido que haveria tal resultado. Isso, sem contar com a triste realidade dos votos de cabresto.

No total, porém, excelentes notícias para nós, conservadores. Quanto à derrota de Lula, não custa sonhar e manter a esperança. Continuemos pedindo a Deus para zelar por nosso país.
Notinha maldosa mas necessária: Deu na imprensa que uma manifestante idosa (60 anos) está agora à noite (uma hora da manhã) em frente ao Palácio da Alvorada, protestando contra "a lama do governo", segundo declarou. Aborrecendo e assustando a pobre senhora, um carro prateado cheio de bandeiras e adesivos do PT fica dando voltas em torno dela, fazendo-a gritar com medo de ser atropelada. Que vândalo! Bom, pensando bem, só podia mesmo ser coisa de petista: falta de respeito aos mais velhos, descaso com a vida dos outros, encheção de saco e muita movimentação sem sair do lugar. Eu disse petista? Comunista-socialista!

01 outubro 2006

A lógica torcida do aborto

Precisa debater com um defensor do aborto? Deixa eu dar umas dicas aqui.

Dentre os argumentos existentes para mascarar a crueldade do procedimento, o mais utilizado é aquele que afirma a impossibilidade de se saber a partir de quando o feto pode ser considerado “gente”.

É um disparate em toda a linha. Ponha de lado as elucubrações sem fim sobre óvulos e as novas descobertas da ciência, e argumente assim:

- Mas vem cá, mesmo se não podemos determinar quando o feto pode ser considerado “gente”, vamos supor que a mulher não faça o aborto.

- Certo.

- Se correr tudo bem durante a gestação – e hoje em dia geralmente corre tudo bem – , o que acontece?

- ...

- Nasce gente depois de nove meses, não nasce?

- (Contrariado) Nasce...

- Então, se você fizer o aborto (não importa quando), gente deixa de nascer, não deixa?

- (Contrariadíssimo) Deixa.

- Qual a diferença então, se fizer agora ou depois? O resultado é o mesmo: alguém deixa de nascer. Se alguém deixa de nascer, quem comete aborto necessariamente suprime um ser do mundo.

Palavras fortes chamam a atenção para decisões fortes. Insista que abortar é o mesmo que suprimir um ser do mundo, e que isso é assassinato. E que ninguém deveria ter tamanho poder sobre a vida de outra pessoa, nem mesmo um genitor.

Foi por isso que um dia desses eu escrevi uma frase assim:

“Argumentar contra o aborto é colocar-se na estranha situação de tentar proteger um filho contra o impulso homicida dos próprios pais.”

Que Deus chame à responsabilidade os pais deste país, ainda que a lei brasileira um dia se posicione a favor dessa loucura assassina do aborto.

29 setembro 2006

Não vote - continuação


Não vote em Jandira Feghali. Veja por quê:

- Jandira é a autora do projeto de lei para a legalização geral e irrestrita do aborto no Brasil. Se aprovado, toda mulher poderá abortar por qualquer motivo e a qualquer tempo, até mesmo poucos dias antes do nascimento do bebê. A razão para isso é que o projeto revoga todos os artigos anteriores, que limitavam o procedimento.

- Jandira é contra a liberdade de expressão religiosa: moveu uma ação judicial contra dois sacerdotes católicos porque eles estavam fazendo na igreja (espaço deles!) o que eu estou fazendo neste blog (espaço meu!): recomendando a não votar em uma candidata que apóia o aborto.

E por que ela entrou na justiça contra os sacerdotes? Simplesmente porque não quer que seu nome seja vinculado a uma causa impopular - o povo brasileiro ainda é bastante conservador - na propaganda eleitoral. Está agindo de má-fé, portanto, pois quem diz "não vote em Jandira Feghali porque ela é uma lutadora ferrenha pelo 'direito' de abortar" está apenas falando a verdade. E ninguém pode ser punido pela lei por falar a verdade.

Repito isso porque os números apontam para uma vitória dessa senadora no Rio de Janeiro. Se você compartilha da minha preocupação, use a internet para tentar evitar que ela seja eleita.

27 setembro 2006

Não vote em quem luta pela legalização do aborto

Suspirei fundo depois desse episódio da Jandira Feghali versus o Cardeal-Arcebispo do RJ, D. Eusébio Scheid, e o Bispo Auxiliar D. Dimas Lara Barbosa. (Leia a história aqui, aqui e aqui.) Minha alegria por vê-los livres da mordaça ainda foi maior, porque meus amigos católicos falam tão bem deles!

Foi com choro e ira que me dirigi ao Senhor anteontem para pedir que a sanha dos juristas - que sabem torcer leis para favorecer decisões contrárias não só às leis eternas de Deus, mas ao bom senso - não alcançasse esses dois sacerdotes, o que feriria toda a comunidade religiosa. Ora vejam, se um sacerdote religioso não puder mais incluir em suas funções o aconselhamento dos fiéis sobre este mundo - como rejeitar o mal e favorecer o bem - , então para que servirá a religião? O juiz que estrilou porque os sacerdotes estavam tratando de política em ambiente religioso não entendeu que sua sentença significava o fim da relevância da fé. E Jesus recomendou que não nos escondêssemos, mas sim que fôssemos luz e sal - ou seja, atuarmos contra a corrente, se necessário, para que permaneça o que é correto. Entre obedecer ao juiz e obedecer a Jesus, com quem deve ficar o cristão?

Vejam o absurdo que Jandira e seus amigos socialistas-comunistas queriam impingir aos sacerdotes, e louve a Deus porque o TRE não aprovou a determinação:

“Determino a notificação do Cardeal D. Eusébio Oscar Scheid, assim como do Bispo Auxiliar, D. Dimas Lara Barbosa, no sentido de que orientem a todos os Párocos, Vigários Paroquiais e Diáconos ou a eventuais celebrantes de ofícios religiosos, no sentido de que se abstenham de qualquer tipo de comentário ou referência político-ideológica, sob pena de caracterizar-se desobediência à presente ordem judicial.”

É isso aí! Coligação PT/PC do B: muito mais censura para você. Principalmente se você for cristão!

Por isso, depois desse desfecho, abro ainda mais a minha boca, não só continuando a instar os cristãos a não votarem em candidatos que militam a favor da legalização do aborto - uma luta permanente e acirrada entre as fileiras do PT - , mas pedindo explicitamente para que não votem em Jandira Feghali. Dessa vez, por dois motivos: 1- É de autoria dela o projeto que legalizaria o aborto por qualquer motivo e a qualquer tempo, até minutos antes do nascimento; esse projeto ainda pode retornar à baila. 2- Entrou na justiça contra a Arquidiocese do Rio de Janeiro por causa da postura política pró-vida, exigindo a apreensão dos cartazes e um calaboca dos sacerdotes, que apenas estavam sendo fiéis. Portanto, não vote em Jandira: além de continuar a batalhar para liberar o aborto sem limites no Brasil, ela é dessas pessoas que jogam com a lei para atentar contra a liberdade de expressão religiosa, e isso dentro de nossos templos, o que não podemos aceitar em hipótese alguma.

18 setembro 2006

Ciência e Religião: Congresso no Mackenzie

Estive esses últimos dias em São Paulo para o II Congresso Internacional de Ética e Cidadania, um evento de peso promovido pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, que reuniu pesquisadores da Escola Superior de Teologia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, além de acadêmicos de todas as áreas, cristãos e não-cristãos, para debates em torno do controvertido tema “Religião e Ciência”. Como convidada palestrante, falei sobre René Girard e a questão do mal: o deslocamento da ânsia pelo transcendente como perpetrador de violências, na mesma mesa que Hermisten Maia (que tratou de Calvino e suas considerações sobre ética do trabalho) e Davi Charles Gomes (que abordou principalmente a teoria do conhecimento em Michael Polanyi, tema empolgante para mim). Comentei depois com Davi em um almoço com todo o pessoal do O Tempora, O Mores, para risos gerais, que nossa mesa tinha um perfil bastante conservador: de um lado, ele e Hermisten dando uma cotovelada no marxismo; de outro, eu aplicando um pontapé discreto no terrorismo e no pensamento PC. Foi divertido.

No entanto, em que pese o perfil conservador de nossa mesa, as palestras e comunicações do congresso assumiram um caráter bastante plural, como deve ser todo evento desse porte. Havia temas muito diversos do meu, em torno de assuntos tão díspares quanto “produção de eucalipto” e “tatuagem”, e orientações muito diferentes das minhas, sobre autores como Emmanuel Levinas, Antonio Gramsci (ui!) e Paul Tillich – sobre este, tive de brincar com Guilherme Carvalho, em quem tive o prazer de dar um grande abraço no final de uma das conferências, dizendo que não iria assistir uma comunicação sobre um autor liberal. (Acabei não assistindo mesmo, mas por motivos contingenciais e alheios a minha vontade – pois é certo que temos muito a conversar! E, para todos os efeitos, Gulherme gosta de Tillich mas está muito, muito longe de ser um liberal.)


Nancy Pearcey

A grande estrela do evento foi Nancy Pearcey, autora requisitada nos EUA, considerada por muitos a sucessora de Francis Schaeffer, que foi seu mentor em L’Abri. Há livros seus publicados hoje no Brasil: A alma da ciência (Editora Cultura Cristã), E agora, como viveremos? (com Charles Colson, CPAD) e Verdade absoluta: libertando o cristianismo de seu cativeiro cultural (CPAD) – este último, lançado no evento.
Prometo postar alguns trechos dele aqui no blog: já estão devidamente sublinhados.

A separação entre ciência e fé

Nancy Pearcey tratou fundamentalmente da herança iluminista na cultura ocidental, que separa até hoje ciência e fé, colocando-as em estágios estanques sem comunicação possível. Em sua primeira palestra, tratou das duas reações das artes plásticas a essa configuração: a romântica, que aceita a oposição entre razão e espiritualidade e se engaja contra a primeira, originando movimentos como o expressionismo (Van Gogh, Gauguin), o simbolismo (Dalí), o surrealismo (Chirico), a pintura de “ação” (Pollock), o desconstrucionismo (Rauschenberg); e a naturalista, que se confessa empirista e promove uma arte que se propõe “colada” à realidade ou àquilo que o olho pode perceber, como o impressionismo (Monet), o cubismo (Cézanne), a arquitetura Bauhaus.

Foi impressionante a convergência entre essa primeira conferência e a minha palestra, na qual também parti de uma crítica ao romantismo para explicar o que Girard quis dizer com “mentira romântica” – que é a convicção na autonomia, na originalidade e na independência do homem como agente sobre o mundo. Creio que, na literatura, é a tendência romântica – oposição sistemática à razão e às convenções, confiança no “novo” – que se faz mais presente, ainda que aqueles que tratam da “modernidade” no sentido francês gostem de falar da fragmentação e da fraqueza humanas. No entanto, fazem-no, segundo o que posso perceber, no mesmo viés romântico: autores e teóricos literários “modernos” acabam transformando a “fragmentação” e a “fraqueza” em verdadeiras forças de resistência contra o que chamam de tentativa unificadora, ou totalizante, espécie de poder cristalizador que é o vilão da literatura na modernidade. É claro, a religião, via de regra, e especialmente o cristianismo, entra nisso como um dos poderes moralizantes que se deve aniquilar. E quem chega para substituí-la na ânsia humana pelo transcendente? Exato: a arte. Assim como declarei em minha palestra sobre Girard, Nancy Pearcey apontou para o viés romântico na arte como um substituto moderno – amoral, irracional, sem conteúdos objetivos visíveis – para a religião.

Foi uma convergência tão feliz de idéias que acabamos conversando um longo tempo em uma das diversas confraternizações que se seguiram às conferências (eu com meu inglês macarrônico e “with an accent”), além de trocarmos alegremente sugestões de livros e autores. Dei-lhe os nomes de James Houston e John M. Ellis, além de recomendar a leitura de A condição humana (Hannah Arendt, sobre a cisão cartesiana entre razão e fé) e O movimento psicanalítico (Ernest Gellner, sobre o conceito freudiano de inconsciente como um substituto para Deus). Ela me retribuiu com uma extensa lista de autores sobre a arte, gente de quem eu nunca havia ouvido falar, como Jacques Barzun, Donald Kuspit, Gene Edward Veith e Roger Lundin – este, sobre teoria literária e hermenêutica. Foi um encontro muito estimulante e produtivo!

O darwinismo I: aleatoriedade estéril e assassina

Nas palestras que se seguiram, Pearcey explicou como a rivalidade entre ciência e cristianismo é fundamentalmente um mito, evidenciando o impulso que o cristianismo deu ao pensamento crientífico com seus pressupostos - do qual o mais importante é a crença em uma inteligência divina por trás dos mecanismos e das estruturas existentes no mundo, o que deu a certeza ao pesquisador de que há inteligibilidade sistêmica por trás dos fenômenos. Ficamos sabendo, por exemplo, que a hostilidade da Igreja Católica à pesquisa científica foi, em grande parte, forjada por historiadores materialistas comprometidos em derrubar o cristianismo, e que a distorção que praticaram tem sido amplamente reconhecida por pesquisadores sérios. Pearcey recomendou o filósofo Alvin Plantinga, que, além de confirmar a matriz cristã para a ciência, adverte que o evolucionismo não garante as crenças mais verdadeiras e/ou verossímeis (Warrant and Proper Function) e condena o que chama de "liberal duplipensar" (Darwin, Mind and Meaning). A autora mostrou ainda na tela uma impressionante lista dos grandes cientistas de todos os tempos: ao contrário do que poderíamos imaginar, a esmagadora maioria se confessa cristã ou simpatizante ao cristianismo, com um ou dois ateus ou agnósticos.

Pearcey ressaltou sobretudo as conseqüências nefastas do darwinismo para as ciências humanas, doutrina que trata o homem como produto aleatório da evolução e exalta, por isso, o pragmatismo das decisões da natureza, que elege “aquilo que funciona”. Foi especialmente chocante e triste ter conferido até onde esse pensamento pode nos levar: John Gray, filósofo britânico, fala com desdém na “idéia de dignidade humana que vem com o cristianismo”, e o infanticídio é defendido por Peter Singer como uma extensão lógica do aborto (viram no que dá apoiar esse negócio?!). Ainda há um livro importante que correlaciona darwinismo e fascismo: Modern Fascism: the Liquidation of the Judeo-Christian Worldview, por Gene Edward Veith, autor cristão.

Aliás, um apelo às editoras cristãs brasileiras: por que não deixar de lado um pouquinho a vertente “psicologia espiritual”, às vezes intimista demais e por isso em consonância com o pensamento moderno, e publicar esse tipo de literatura, que nos ajuda a melhor ser luz e sal no mundo?

O darwinismo II: uma fraude em toda a linha

Por fim, acompanhamos com Pearcey a fraude do darwinismo, cujas principais “provas” - como o aumento do bico do tentilhão, as mariposas de Manchester ou os embriões de Haeckel - foram evidentes manipulações desonestas, já conhecidas em sua época, porém até hoje divulgadas e utilizadas em livros didáticos. De fato, tal tipo de coisa não difere muito daquilo que os conservadores já vêm observado há um bom tempo: a existência de uma ampla tentativa de substituir as bases judaico-cristãs da cultura ocidental por bases seculares, tal como exposto na obra The Secular Revolution, por Christian Smith, citada por ela.

Observei em meu caderno que o evolucionismo parece ter se valido do mesmo impulso de Freud com relação à psicanálise: conquistar ampla aceitação por meio do carimbo da "cientificidade". No entanto, Pearcey destaca que felizmente não se pode fugir da honestidade de alguns autores: um filósofo evolucionista, Michael Ruse, chocou a comunidade científica ao declarar que o Darwinismo precisa de pressupostos autofundantes - dogmas - para se afirmar, e que nesse sentido a doutrina evolucionista seria tal e qual uma religião. Conclui desta forma sua série de palestras, afirmando ousadamente que tudo aponta para o fato de que o evolucionismo não é uma “teoria científica”, mas apenas uma filosofia, uma explicação dos fundamentos da existência para a qual não há evidência propriamente factual ou científica. Nesse sentido, o cristianismo e o evolucionismo competiriam, segundo ela, nas mesmas bases – sendo o evolucionismo também pertencente à esfera da crença religiosa.

No entanto, devo acrescentar que nessa competição nós obviamente estamos na frente: a nosso favor, conta o testemunho ocular dos contemporâneos de Jesus que presenciaram a história em torno de sua ressurreição, que até hoje não pôde ser contradita formalmente por nenhum pesquisador que se dignou a desacreditar a principal base de nossa fé. Nesse sentido, o evolucionismo ainda contém um aspecto irracional que não está presente no que cremos: não há um só fato fundador das crenças darwinistas, apenas especulações. É quando podemos não só lamentar o estado de ignorância em que se encontram as instituições de ensino em todo o mundo, mas regozijar, porque Deus nos deu meios de provar que nossa fé não é inimiga da razão nem da ciência. Deus seja louvado!

Realmente promete essa série de congressos - que, conforme as palavras do chanceler da universidade, Augustus Nicodemus, unem compromisso com a confessionalidade do Mackenzie e estímulo ao debate. É com expectativas que aguardo o próximo!

A suprema tentação

Todo líder, cedo ou tarde, confronta o dilema: agir autoritariamente ou não? Porém, pela própria natureza do tipo de regime que defendem, os líderes de esquerda parecem considerar a questão com mais tranqüilidade. Por isso o (ainda) presidente Lula declarou que a China crescia porque era uma ditadura, e que o único modo de fazer o Brasil crescer também seria seguir seus passos, fechando o Congresso. Acrescentou que um "demônio" em seu corpo o tentava nesse sentido.

Quanto a mim, um lado irônico meu me tenta para o comentário: pelo menos ele sabe que se trata de uma ação do mal, já que lhe associa uma criatura demoníaca. Porém, não creio que seja bem-vinda uma ironia diante da gravidade da situação - a possibilidade de vermos implantada no Brasil uma ditadura de esquerda. Que fique claro apenas isso: essa possibilidade é real, e ouvi-la de um presidente que apóia ditaduras, ainda que em tom de brincadeira, não ameniza o perigo que representa.

Não acredita? Então veja os links aqui, aqui e aqui. Lula tem negado que disse o que disse - sobre o "demônio", mas não sobre fechar o Congresso. Porém, como acreditar nele? De qualquer forma, há muitos outros motivos para que ele não receba seu voto. Leia a Segunda Carta ao Povo Brasileiro, de Alejandro Peña Esclusa. Na primeira, antes das eleições de 2002, ele advertia: “Lula está estreitamente vinculado a Fidel Castro, a Hugo Chávez e à guerrilha colombiana e, se ganhar as eleições, o Brasil corre o perigo de conformar um eixo internacional de poder, com epicentro em Havana. Como conseqüência, vosso país submergirá em um turbilhão destrutivo que os levará a graves enfrentamentos internos.” Esclusa confirma esse prognóstico em sua segunda carta, mostrando como os planos de Lula estão avançando e reiterando que avançarão muito mais caso haja sua reeleição. Leitura imprescindível.

08 setembro 2006

Evangélico preso por distribuir folhetos

Mensagem aos leitores cristãos votantes

Vejam a matéria abaixo. Um evangélico é preso somente por distribuir, de maneira gentil, singelos folhetos sobre o homossexualismo!

Na Europa a coisa já está assim. Um Estado policial se arma em todos os lugares para aprovar palavras e comportamentos, que se tornam verdadeiras leis, e ai de quem se levanta contra!

Nessa época de eleição no Brasil, a divulgação de tal notícia precisa vir acompanhada de um grave alerta: cuidado na hora de votar! Não apóiem nem divulguem candidaturas de políticos que defendem causas contrárias a Deus, como aborto, homossexualismo, socialismo (Estado onipotente e politicamente correto) etc. Senão, seu voto ou seu apoio estará ajudando a construir esse tipo de sociedade baseada nos preceitos do politicamente correto - e são os seguidores de Cristo que mais sofrerão debaixo de um jugo governamental e policial, que os obrigará a se calar ou manifestar aberta simpatia diante daquilo que desagrada a Deus.

Não contribua para que o Brasil se torne como a Europa do século XXI! Pesquise antes de votar e leia sobre regimes socialistas e comunistas, para saber como os cristãos eram e são maltratados por esses governos.

Se julgar importante, passe adiante essa mensagem ao maior número de cristãos que puder.

Com um grande zelo por nosso país,

Norma Braga


Evangélico é preso por distribuir citações da Bíblia condenando o homossexualismo
Foi preso sem jamais ter se conduzido de modo violento ou agressivo
Gudrun Schultz

GALES, Reino Unido, 7 de setembro de 2006 (LifeSiteNews.com) — Um conhecido líder evangélico, preso por distribuir folhetos num festival homossexual do carnaval Mardi Gras, foi acusado unicamente na base de que os folhetos apresentavam opiniões que se opõem ao homossexualismo, noticiou ontem o jornal Daily Mail.

Stephen Green, de 55 anos, diretor nacional da organização evangélica Christian Voice (Voz Cristã), foi preso por entregar folhetos intitulados “Amor do Mesmo Sexo — Relação Sexual do Mesmo Sexo: O que a Bíblia Diz?” para os que estavam saindo do festival homossexual no Parque Bute.

Green foi acusado de “conduta ou palavras ameaçadoras, abusivas ou ofensivas”, noticiou o noticiário da BBC.

A polícia de Gales admitiu que o Sr. Green foi preso porque os folhetos continham citações da Bíblia condenando a atividade homossexual. Um porta-voz da polícia confirmou que o líder evangélico não havia se conduzido de maneira violenta ou agressiva, de acordo com o Daily Mail, mas disse que o Sr. Green foi preso pela Unidade de Apoio às Minorias de Gales porque “o folheto continha citações da Bíblia acerca do homossexualismo”.

“Estou pasmado que a polícia de Gales tenha uma unidade especial dedicada a silenciar aqueles que não concordam com o homossexualismo”, o Sr. Green contou ao Daily Mail.

Ele questionou as ligações estreitas entre a polícia e os grupos homossexuais, dizendo: “Talvez eles estejam trabalhando perto demais, daí um evangelista pode se tornar vítima simplesmente porque está distribuindo folhetos que citam versículos da mesma Bíblia que as autoridades policiais usam para fazer juramentos nos tribunais”.

A polícia solicitou ao Sr. Green que deixasse a área do festival depois de receber “queixas do público”, e ele atendeu à solicitação. Então ele começou a distribuir folhetos fora da entrada da área, se recusando a parar quando a polícia de novo se aproximou. Depois de sua prisão ele foi interrogado durante quatro horas numa delegacia de polícia, e foi acusado de cometer crime, depois de recusar um aviso [para não repetir a distribuição de folhetos]. O Sr. Green não tem nenhum antecedente de violência ou agressividade em seu histórico de manifestações contra o homossexualismo.

Representantes dos evangélicos da Igreja da Inglaterra condenaram a prisão como “um ataque contra a liberdade de expressão e contra a liberdade religiosa”. O Reverendo Rod Thomas, porta-voz da organização Reforma (que representa 500 pastores da Igreja da Inglaterra), disse: “Por que é que os direitos gays são considerados como mais importantes do que a liberdade de expressão eu não sei. Há um perigo real de que aqueles que têm tentado apoiar os direitos gays por motivos liberais poderão se achar responsáveis por reprimir liberdades vitais”.

Colin Hart, do Instituto Cristão, assinalou que o folheto evitava o uso das citações bíblicas mais fortes que se opõem ao homossexualismo, dizendo: “É um folheto muito gentil. Não usa palavras como ‘perversão’. Tenho de ficar imaginando se as igrejas, bispos e arcebispos são agora vulneráveis à prisão por suas opiniões sobre a homossexualidade”.

A polícia britânica conduziu uma série de iniciativas nos meses passados contra aqueles que manifestaram ser opostos à atividade homossexual, noticiou o Daily Mail, inclusive avisos, visitas a lares e investigações. Sir Iqbal Sacranie foi investigado depois de uma entrevista em que ele disse que o homossexualismo era prejudicial. A escritora Lynette Burrows recebeu um aviso policial depois de dizer num programa de rádio da BBC que os homossexuais não preenchem os requisitos de pais adotivos ideais.

Depois que se queixou acerca das políticas de direitos homossexuais da câmara de vereadores de sua localidade, um casal evangélico recebeu em seu lar a visita de agentes da polícia, que lhes entregaram aviso.

O Sr. Green permanecerá preso aguardando julgamento até 28 de setembro.

Tradução e adaptação de Julio Severo: www.juliosevero.com; www.juliosevero.com.br

Não custa perguntar

Todo felizinho, Reinaldo Azevedo - ele mesmo, da falecida (mas viva em nossos corações) Primeira Leitura, que tinha e tem em mim uma assídua leitora - postou em seu blog trechos de uma carta indignada de Fernando Henrique Cardoso sobre a corrupção e os descalabros do PT. É verdade, Azevedo gosta do moço - quem leu Contra o consenso encontra uma ou duas referências bastante elogiosas a Efe Agá Cê. Não que isso lhe diminua a credibilidade, pelo contrário, é tranqüilizador que manifeste tão abertamente suas preferências. Porém, não custa perguntar: essa indignação, por que só agora? O que aconteceu com a alegre cumplicidade de propósitos entre PT e PSDB que o leitor de O Globo, em um passado não tão remoto, pôde comprovar a partir das declarações do próprio? Por isso, postei um comentário ali e espero, mui sinceramente, que a resposta venha de algum lugar - e uma resposta mais crível que aquela que menciono no final do meu texto.

Enquanto FHC divulga essa carta, Cristóvam Buarque parece ser o único candidato a denunciar abertamente o projeto totalitário do PT para o país. Pergunto: quando os dois fizeram aquela entrevista para o jornal O Globo (e Buarque ainda era filiado ao PT), dizendo entre amabilidades mil que PSDB e PT eram concorrentes políticos mas amigos ideológicos - e que tudo se resumia apenas em "quem concretizaria melhor" as mesmas aspirações - , será que a realidade do que o PT é hoje estava tão distante das vistas de ambos? O que aconteceu com toda aquela convergência? Sei lá, não custa perguntar. Sem uma resposta adequada, essa hostilidade tardia ao "hegemonismo" e ao "projeto totalitário" do PT pode parecer uma calculada expressão da estratégia das tesouras, conforme explicada por Olavo de Carvalho (mais ou menos uma brincadeira good cop/bad cop em nível político-nacional): enquanto o PT faz o papel do revolucionário radical e truculento, seus dissidentes e partidos até então "amigos" como o PSDB encarnam a esquerda calminha ou a direita de bom coração, sem ser uma coisa nem outra.

03 setembro 2006

Por uma escola sem partido

Hoje cedo a voz a Miguel Nagib, advogado que decidiu denunciar e combater na Web a manipulação ideológica de estudantes com o EscolaSemPartido.org, página única no gênero em nosso país. O site é excelente e conta histórias tenebrosas - é quando ficamos sabendo que um professor de História Antiga, por exemplo, sob a complacência total da instituição, pode ocupar a maior parte tempo só exaltando o PT, conseguindo obter a simpatia e a aprovação de bom número de alunos. Graças ao site, podemos chegar ao conhecimento de tal aberração e nos mobilizar para fazer algo.

texto de Miguel Nagib
advogado e coordenador do EscolaSemPartido.org

Há dois anos, um pequeno grupo de pais e estudantes preocupados com a contaminação ideológica de nossas salas de aula decidiu fazer algo para combater essa grave ameaça ao ensino. Criaram, para isso, uma organização informal que, a exemplo de tantas iniciativas nos dias de hoje, se materializou numa página da internet: o www.escolasempartido.org.

O EscolaSemPartido.org, que tem por modelo bem-sucedidas experiências realizadas nos EUA – especialmente o http://www.studentsforacademicfreedom.org/ e o http://www.noindoctrination.org/ –, baseia-se na premissa de que, numa sociedade livre e pluralista (como diz ser a nossa), as instituições de ensino deveriam funcionar como centros de produção e irradiação do conhecimento, firmemente comprometidos com a busca da verdade, abertos às mais diversas perspectivas de investigação e capazes, por isso, de refletir, com a máxima fidelidade possível, os infinitos aspectos e matizes da realidade. É o que estabelece, com outras palavras, a própria Constituição Federal, ao dispor que “o ensino será ministrado com base nos princípios da liberdade – de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber – e do pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas”.

Continua aqui.

01 setembro 2006

O Esnobe (II) é aquele que...

...controla-se muito, mas muito mesmo, para, em um embate de argumentos via texto escrito, não apontar os erros de português do adversário - não porque ache o procedimento desleal (embora ache um pouco), mas principalmente para tentar impedir que os outros lhe atribuam a pecha que ele evita mais do que a peste: esnobe! Afinal, ele quer que reconheçam seu bom português, mas não quer perder público humilhando o pobre do oponente que estudou ou leu bem menos que ele. E vai agüentando com bravura os "ascenção", os "paralizar" e os "a nível de", como quem está de dieta e mantém a boca fechada em festa de criança.

31 agosto 2006

Da série Poemas Filosóficos I

Anti-oxímoro

Espelho diante de espelho
Transcendência forjada
A mão que crê erguer-se
rumo ao céu
Mas que erra, e segue
indefinidamente para baixo,
para o nada.

17 agosto 2006

Frei Betto e a Cidade Perdida

O ano é 1958. Havana está mergulhada em um caos de bombas, assassinatos políticos, incerteza quanto ao futuro. Capangas de Batista caçam freneticamente os opositores do governo, enquanto Fidel e Che armam-se nas montanhas e atraem jovens idealistas de todas as classes para o sonho revolucionário. Desesperançado, o pai do personagem principal comenta:

- Até o próprio Cristo se muniu de um chicote para pôr ordem no caos. Acho que estamos precisando de um Cristo com um chicote.

Que ficasse claro: não era uma apologia da violência. Logo em seguida, cita uma palavra hindu para "resistência passiva". Era seu jeito de ver as coisas: transformação social sim, mas pela via democrática, sempre. Havia ajudado um político influente a elaborar um discurso contra Batista e contra o furor da revolução. O texto começava com um precioso lembrete da história antiga: o sábio Sêneca contra os tiranos Nero e Calígula. "Precisamos de líderes que se inspirem em Sêneca, e não dos Neros deste mundo", dizia.

O Nero que reinaria por quarenta anos em Cuba se preparava nas montanhas.

- Parece que chegou o autoproclamado Cristo - comenta o filho algum tempo depois, lembrando-se das palavras do pai. Seu chicote onipotente, a opressão, a mentira, o silêncio. A uniformização da pobreza, a decadência das belas construções, feiúra por todo lado. A humilhação disfarçada de justiça. Todo um povo impedido de gozar das delícias da própria pátria – cubano, sinônimo de pária no lado rico da ilha. Era o mundo que em 58 estava sendo preparado pelo novo Cristo às avessas.

2006. O que faz com que um homem aparentemente são veja o amor de Cristo em um Nero, mesmo muito tempo depois de atestados seus feitos? Que ignore ou finja ignorar que a revolução é a piada macabra dos últimos séculos – de que a aniquilação física e psicológica geraria vida no final? Frei Betto diz ao pastor cubano Raúl Suárez que "somos irmãos em Cristo e em Castro". Não é mero jogo de palavras. O nome do Nero moderno brilha ao lado do nome do Filho de Deus, que está acima de todo nome. Uma blasfêmia sorridente, publicada como corriqueira saudação entre iguais. Insensatez sem tamanho e sem medida, salão de espelhos que multiplica ao infinito as imagens estéreis da vaidade humana.

A frase de Federico, o personagem de Andy Garcia em Lost City, ecoa em meus ouvidos: "Parece que chegou o autoproclamado Cristo." Até quando usarão o nome Dele para perpetuar a iniqüidade? Valem-se de Seu nome, de Sua fama, de Suas palavras de amor eterno – pouco lidas, pouco compreendidas – para ocupar Seu lugar no coração humano. Amantes de si mesmos, usurpadores daquilo que é devido apenas a Deus: a adoração. Idolatria que gera idolatria e impede o verdadeiro Cristo de habitar em nós. "Questão de caráter", diz o pai logo no início do filme. Sim: pois não há mal que por si produza bem, e crer nisso nos transforma em impiedosas máquinas de matar, conforme queria Che Guevara. Do contrário, aprendemos com Cristo que a única morte capaz de gerar vida foi uma morte livremente consentida. "Dou a minha vida por amor de vós."

Anátema a qualquer simulacro deste que é o maior ato de amor da história. Os Anticristos antigos e modernos receberão a paga por sua loucura, e será feita justiça, pois o sangue dos mártires clama através dos séculos. "Para que saibam que só tu, cujo nome é o Senhor, és o Altíssimo sobre toda a terra (Sl 83:18)." Toda glória seja dada a Ele, somente a Ele.

14 agosto 2006

Perdi A Cidade Perdida

Fiquei surpresa de achar A Cidade Perdida na programação de cinema de um jornal aberto ao acaso, no começo da semana passada. Surpresa e muito feliz ao constatar a inexistência de (pelo menos) um bloqueio esquerdista. Imaginei que havia exagerado ao escrever um artigo no Mídia sem Máscara reclamando da ausência do filme de Andy Garcia em telas brasileiras. Bom, de qualquer forma, o filme estava presente em apenas uma sala, o que poderia ser um pouco suspeito. Prometi a mim mesma que iria vê-lo duas vezes, uma para curtir, a outra para fazer anotações extras e desenvolver uma resenha, a ser publicada no site do CIEEP.

Falei com alguns amigos, mas ninguém podia ir ao cinema no meio da semana. Algo como um bichinho incomodando, que agora chamo intuição, dizia-me para ir ver o filme o mais rápido possível. Quase fui na quinta-feira, mas estava cansada e o horário era apertado, entre aulas. Corria o risco de chegar atrasada e ficaria nervosa durante o filme. Decidi que iria sem hesitar no sábado, após minha aula matinal. Essa decisão me deixou cheia de expectativas, e não pude evitar o pensamento de que havia anos, talvez, que não me sentia tão radiante com a promessa de um filme.

Sábado, lá fui eu. Havia um shopping perto do cinema, onde almocei e comprei um casaco lindo que estava em promoção. "Pode fazer frio lá dentro, e eu sou muito friorenta", foi a desculpa. Cheguei lá quarenta minutos antes de o filme começar, pensando no café delicioso e na livraria bonitinha que fazem parte da mesma galeria. Qual não foi a minha decepção quando a funcionária, muito solícita, informou que o filme não estava mais em cartaz.

- Mas não é possível. Eu vi no jornal essa semana!
- Pois é, mas ficou só uma semana mesmo.
- Saiu quando?
- Quinta-feira.

Depois de alguns comentários raivosos sobre a esquerda fidelista brasileira, deixei o cinema com lágrimas nos olhos. Se pudesse, escreveria este post com toda a raiva que me consumia então. Mas decidi não estragar meu sábado e guardei para depois. Vi algumas coisas agradáveis na TV a cabo e relaxei. Algo mais brando, porém não menos forte, indignação, substituiu a raiva. Ou senão, os leitores que me imaginam acometida de algo próximo a uma mania conspiratória respondam-me, por favor, POR QUE CARGAS D'ÁGUA UM FILME SOBRE CUBA E FIDEL CASTRO FICOU APENAS UMA SEMANA EM CARTAZ, EM PLENA ÉPOCA DE POSSÍVEL FIM DO REGIME PELA MORTE DO DITADOR. Não, é inadmissível, de qualquer ângulo a partir do qual se olhe. É contraproducente e antimarqueteiro. É loucura. Digam o que disserem, foram os fidelistas midiáticos deste país que impediram o filme de obter a publicidade e o alcance que merecia. E acreditem-me, no Brasil, esses fidelistas são legião. Se eu não fosse cristã, certamente os xingaria aqui. Porém, a cegueira na qual estão mergulhados talvez seja castigo suficiente para seu autoritarismo.

06 agosto 2006

O Esnobe I

O Esnobe é o lado Mr. Hyde que possuem muitos daqueles que gostam de se dizer "intelectuais". Ou, pelo menos, é uma troça que faço comigo mesma e com meus semelhantes.

Assim, O Esnobe poderá fazer declarações ou pensar frases como essa:

- Não perco meu tempo discutindo com quem não coloca vírgula em vocativo!

Ou secretamente morrer de vergonha porque alguém do meio acadêmico descobriu que ele já viu uma novela da Globo, leu um Paulo Coelho, ouve um rock-pop bobinho...

No fundo, é alguém muito carente, que mesmo sem perceber acaba usando seus conhecimentos para impressionar e cativar. Tem um certo horror da idéia de ter sua imagem arranhada, de ser impopular, mesmo quando está com a razão. Ou, do contrário, pode cultivar um certo gosto em contrariar, chocar, zombar dos outros, tudo para mostrar o quanto não se importa com o que pensam dele (quando, no fundo, importa-se, e muito). É o lado imaturo, oculto, do homem ou da mulher de letras, filosofia, história, cultura. Quanto mais conseguirmos rir dele, mais nos liberaremos de seus transbordamentos indevidos.

Flor de Obsessão também é auto-ajuda! :-)

Fidel e Cristo, nada a ver

Saiu uma matéria excelente no Mídia sem Máscara sobre o crescimento das igrejas em Cuba apesar das limitações impostas pelo coma andante Fidel Castro. Há vários aspectos a destacar no texto, mas fico com um deles, que me chamou a atenção quando li o seguinte trecho:

Missionários americanos que trabalham em Cuba bem como pastores cubanos relataram para a revista Charisma recentemente que o reavivamento cristão tem atingido até mesmo a família de Fidel. (...) Os relatos também revelam que grande número de autoridades do governo cubano está se convertendo e deixando seus empregos no governo comunista.

Não posso evitar a pergunta: por que o cristão cubano sabe que seguir a Cristo e ser comunista são excludentes, enquanto tantos cristãos brasileiros não só se dizem comunistas, mas expressam abertamente sua admiração por Fidel? Simples: porque lá, em Cuba, o comunismo é vivido e mostrado sem os falsos adornos de um falso cristianismo. Afinal, eles já chegaram à revolução - modalidade truculenta, não gramscista. Nós estamos imersos no caldo grosso do gramscismo, do marxismo cultural, em que todo híbrido posa de criatura possível, apesar de horrenda aberração. Creia em Cristo e no comunismo, e sua fé não passará disso: um híbrido natimorto, um ser impossível, gerador da tremenda violência para o espírito que consiste em afirmar e negar a transcendência ao mesmo tempo.

02 agosto 2006

A morte de Fidel Castro

Sei que é pecado desejar a morte de alguém. Mas, quando a morte de alguém é um sinal alvissareiro do fim do sofrimento de muitas pessoas, continua sendo pecado?

Eis que estou com o mesmo dilema por que deve ter passado o pastor Dietrich Bonhoeffer... resolvido com a decisão de participar do assassinato de Hitler.

Jamais, espero, pretenderei participar do assassinato de quem quer que seja, mas não deixo de me sentir um pouco cúmplice – uma cúmplice calada, introspectiva, pudica – da doença de Fidel, ao não conseguir deixar de desejar sua morte. Participo assim um pouquinho, dessa maneira discretíssima (sem falar nada a ninguém e sem sentir uma verdadeira satisfação interior), da esperança dos cubanos diante do desenlace final que poderá abreviar mais de 40 anos de cerceamento do ir-e-vir, sentinelas do pensamento, pobreza generalizada, mortes e prisões arbitrárias. São as máculas de Fidel, que o acompanham por onde quer que ele vá e lhe legam o justo e terrível apelido, na ilha, de coma andante: um espírito de quase morte não só carrega seu corpo, mas transborda e se espalha feito nuvem negra desde 1957, abatendo-se sobre os 17 mil cubanos fuzilados pelo governo, os outros que feneceram de fome e sede em masmorras cujo número ninguém sabe, os outros tantos que morreram em alto-mar buscando liberdade em Miami, os cristãos oprimidos por prisões e autoritarismos (não podem reunir-se, evangelizar e construir igrejas livremente), os que um dia cooperaram com o regime mas se arrependeram e lutam, a altos preços, pela liberação da ilha.

Desses últimos, destaco um nome, Hilda Molina, neurocirurgiã cubana que se levantou contra o tráfico de órgãos humanos e passou a ser perseguida por sua dissidência do regime castrista. Segundo a Folha de São Paulo de 25/07, Hilda tem um filho na Argentina e o próprio presidente Kirchner intercedeu pessoalmente junto a Fidel por ela, em um evento em Córdoba mês passado, para obter do ditador uma permissão de viajar. Fidel fechou a cara para o líder argentino e até hoje não respondeu. Impiedoso para com os "rebeldes", o governo cubano fez algo terrível a ela: privou-lhe de sua aposentadoria, obrigando-a a viver do lauto salário da mãe, 160 pesos (o equivalente a oito dólares por mês). Não satisfeito com isso, ameaça agora privar-lhe da presença do filho, de valor emocional incalculável.

Leio esses casos – quem quiser receber notícias como essa, é só se inscrever na
Frente Universitária Lepanto – e minha indignação aumenta. O que desejar para o monstro Fidel, responsável pelo encarceramento e pela vida miserável, quando não pela morte miserável, de um povo tão gentil e festivo quanto o cubano? O arrependimento, em primeiro lugar. Mas, se tal não ocorrer, que Deus o leve, pela alforria de um povo inteiro e pela vitória da vida e da liberdade. Oro então: Senhor, liberta Cuba e os cubanos da ditadura castrista. Se para isso for preciso a morte de Fidel Castro, que seja. Tu o sabes. Obrigada. Amém.

26 julho 2006

Ufa! Vetado o projeto burro

Que os leitores me perdoem o azedume, mas o Projeto de Lei Complementar n° 79/2004, que estendia a obrigação do diploma e do registro de jornalista a funções como diagramador, desenhista e comentarista é - não há outra palavra - burro. E muito! Felizmente, o projeto foi recusado hoje, depois que a Associação Brasileira de Imprensa enviou à presidência um pedido de veto, em um texto surpreendente pela liberdade que toma ao lançar mão de bem-feitas ironias.

Em entrevista, o autor do projeto, deputado e pastor Amarildo, pontificou várias vezes que seu objetivo foi "valorizar a profissão de jornalista". Bom, lendo as críticas da ABI, fica difícil entender como e onde as propostas cumprem esse objetivo. Confira alguns trechos:

6. Ao pontificar sobre seara que lhe é estranha, o autor da proposição deixa entrever que desconhece não apenas o cotidiano da vida interna dos órgãos de comunicação, mas igualmente a realidade das faculdades de Comunicação Social, que se pretende sobrecarregar com a obrigação de formar profissionais que prescindem de formação de nível superior, como é o caso, por exemplo, do Arquivista-Pesquisador, do Diagramador, do Assessor de Imprensa ou do Ilustrador. (...)

Se tivesse vivência em redação de jornal, o autor do projeto saberia que há um monte de funções envolvidas na produção jornalística que não precisam nem de diploma nem do conhecimento universitário. Como não tem essa vivência nem se informou adequadamente, ficou sem saber que a aprovação de seu projeto desempregaria um monte de gente. Shame on him.

7. A todas essas inadequações se junta a proposta da inclusão nos textos normativos da profissão de jornalista da figura do Professor de Jornalismo (inciso XXI do art. 6º), atividade que deve ser definida e regulada pela legislação pertinente à organização do ensino superior. Mais que inadequada, é absurda a instituição da figura do Comentarista (inciso XIII do citado art. 6º), novidade que desde logo afasta a possibilidade de os meios de comunicação, especialmente o rádio e a televisão, recorrerem a especialistas para análise de questões que o veículo considere relevantes.

8. Além de impedir que, afora os profissionais já em atividade, cujos direitos adquiridos terão de ser respeitados, pessoas com notório saber em seus campos de atividade, como ex-jogadores, ex-treinadores e ex-árbitros de futebol, sejam chamadas a fazer comentários sobre suas especialidades, o PLC n° 79/2004 ignora a impossibilidade de formação universitária de profissionais sob a denominação genérica de Comentarista. Para se capacitar para o exercício de atividade de tão largo espectro num veículo de comunicação, o profissional teria de contar com uma formação de saber enciclopédico, o que demonstra a inconsistência e o despropósito da disposição proposta.


Hahahaha! De todas as estocadas, "saber enciclopédico" é a melhor. Ou seja, o autor do projeto queria que essa formação bizarra de "Comentarista" substituísse o professor de português que alerta o leitor para erros de redação, o professor de literatura que aborda escritores e obras, o ginecologista que fala na tv sobre saúde da mulher, o economista que trata da situação do país, o filósofo que traz para o grande público o saber universitário em uma linguagem mais acessível... Fosse assim, o jornalista-comentarista teria de ser o Super-Safo, pronto para falar sobre tudo e mais um pouco. Retomo a pergunta lá de cima: em quê isso valoriza o jornalista ou torna melhor a atividade jornalística? Em nada: apenas a rebaixa, impedindo os verdadeiros especialistas de falarem na mídia e promovendo academicamente a superficialidade, mais do que já estamos acostumados a suportar. E por que raios apenas o jornalista tem direito à expressão midiática regular? A Fenaj, que apoiou as propostas, deveria se envergonhar por defender tal abjeção.

Na entrevista que deu à ABERT, o autor justifica as burrices do projeto dizendo "sou pastor, não jornalista". Mas autores de projetos não deveriam conhecer um mínimo daquilo que propõem? Por que o nobre deputado e pastor (é, a igreja tem que agüentar mais essa) não se limitou a falar do que sabe? Em vez disso, pagou mico e gastou à toa o tempo das diversas instâncias por que o texto nefando passou. Agora fica a constatação inevitável: se o Congresso aprova até isso, entende-se por que o País está desse jeito.

Em tempo: até quando os desejos de mudança na atividade jornalística se inclinarão para o cerceamento da liberdade? Será que essas pessoas que se esmeram nesses projetos não pensam além de interesses comezinhos? Não entendem que privar o povo do direito à imprensa livre é condená-lo à morte intelectual? Que Deus os leve ao arrependimento, é minha oração mais sincera.

21 julho 2006

Diálogos (espiritualmente) Irrelevantes III

- Acho que você deveria me pedir desculpas.

- Por quê?

- Porque no dia em que brigamos você disse que eu estava mal espiritualmente e que ia orar por mim!

- E o que é que tem?

- Isso é coisa que se diga, e ainda por cima no meio de uma discussão?

- Foi por causa da sua reação ao que eu falei.

- Mas aquilo que você falou foi horrível!

- Sua reação foi pior.

- Peraí, criatura. O que você está me dizendo? Pensa um pouco. A gente briga, não importa o motivo, e você sai pela tangente com esse argumento sobrenatural?

- Não é um "argumento".

- Ah, então agora você tem um aparelho de medir espiritualidade, é isso?

- Claro que não. Eu sei que só Deus pode julgar Seus filhos. Você pode até não estar mal espiritualmente, mas que parece, parece.

- !

- Opa! Peraí. Deus está me chamando agora. Vou ter que correr. Depois a gente se fala! Tchau.

- ...

15 julho 2006

A batalha pelo corpo de Moisés

Hoje cedo a voz a Guilherme Carvalho, mestre em Teologia e diretor do Centro Kuyper de estudos em teologia e cultura de BH. O texto é lindíssimo e, na contramão de tantos Caios Fábios e Gondins militando bem modernamente não só na antiteologia mas na anti-razão, Guilherme faz uma defesa da teologia de modo bastante poético e heterodoxo. Uma delícia de se ler!

Convocação à batalha pelo corpo de Moisés
do blog Idéia Fiksa

Enjoy!

10 julho 2006

A perfeita liberdade - Jornal Palavra

Publicado no Jornal Palavra

Conversei sobre minhas dificuldades de decisão com um amigo, que buscou me esclarecer de três “peneiras” às quais era útil, para um cristão, submeter suas opções. “A primeira é a normativa”, disse-me, “pois antes de tudo precisamos saber se o que cogitamos fazer é lícito diante de Deus.” Confidenciei-lhe que, de fato, as opções que me restavam já haviam passado por esse crivo. “Ótimo”, respondeu. “A segunda é a circunstancial, que consiste em testar os limites da realidade para o que pensamos fazer.” Ou seja, eu deveria conhecer os trâmites de cada uma de minhas opções, para saber se poderia realizá-las. Deus, nessa segunda peneira, me ajudaria a discernir entre objetivos alcançáveis e inalcançáveis.

Finalmente, a terceira peneira, o coração. “Se o que você pensa fazer está correto segundo os padrões de Deus e é realizável, resta decidir o que você mesma quer mais.” Ponderei que até cristãos costumam pular diretamente para a terceira peneira, com uma impaciência que acaba sendo fonte de muitos arrependimentos.

A igreja evangélica brasileira costuma de fato confundir as três peneiras, aplicando-as sem critério. Limites normativos são impostos em questões de menor importância, enquanto um deslimite subjetivista dilui claras instruções bíblicas. “Por isso é importante utilizar sempre os três critérios na ordem”, concluiu ele.

Toda essa conversa brotou-me à mente enquanto lia um livro sobre Rimbaud, poeta francês que, brigado com Deus, buscava se superar pela palavra. Seus poemas revelam uma luta constante contra uma profunda falta de esperança, o sentimento de fatalidade, o medo da inexistência de um “além” libertador e o risco constante de aniquilamento do eu. Uma luz me atravessou: se a vida com Deus se resume a progressivos “sim” que damos a Ele, paradoxalmente somos mais livres quando a peneira menor – nossos desejos – está contida na maior, a dos desígnios santos de um Deus santo e apaixonado por nós. É quando podemos nos referir com alegria à perfeita liberdade em Cristo, que nos faz exclamar como Sulamita ao rei Salomão: “Eu sou do meu amado.”

06 julho 2006

Diálogos (nada) Irrelevantes II

Fim de culto. O pastor que acabou de pregar pergunta ao visitante, também pastor:

- E então, o que achou?
- Bom...
- Diga.
- Olha, sei que você é um bom pastor e tudo, estudioso e esforçado, mas...
- Pode falar.
- O negócio é o seguinte: tenha paciência, mas hoje não há mais espaço para pregações de uma hora!
- Hã? Como assim, “não há mais espaço”?
- Ah, o povo não agüenta! Fica com sono, com tédio... Fica parecendo aula, conferência...
- Qual o problema de parecer aula ou conferência? O principal no culto é o ensino da Palavra!
- Claro que não! O principal no culto é cultuar a Deus com música, oração, comunhão...
- Veja: qual é a maneira mais devotada de cultuar a Deus, senão com o ensino de tudo o que Ele falou?
- Mas assim o culto fica muito chato! Tem que dar mais espaço para música, teatro, apresentação de dança... Isso é o que todo mundo está fazendo hoje! Você vai acabar perdendo membros, rapaz.

Pausa. O primeiro pastor volta à carga:

- Vem cá, me responda uma coisa.
- Sim.
- Você me disse que uma hora de pregação é demais.
- Exato.
- Dá sono, dá tédio.
- Sim.
- E que hoje ninguém mais agüenta.
- É.
- Mas me responda...
- Fale.
- Quando você diz “ninguém mais agüenta pregação de uma hora”, isso inclui você?
- ...
- Ou seja, essa é sua opinião apenas com relação ao que os membros devem ouvir ou você também acha que a pregação de uma hora dá sono e tédio?

Pausa. A partir daqui, há dois encaminhamentos possíveis para o diálogo.

Primeira resposta:

- (Sem graça) Ah, comigo é diferente...
- Ah é?
- Afinal, eu sou pastor, como você...
- Hum. Então você acha que nós, pastores, somos diferentes?
- Claro! Quer dizer, não porque somos melhores ou mais inteligentes que os membros...
- Sei.
- Mas porque, como somos formados em teologia, nosso grau de atenção e de interesse é maior...

- Você não acha que entre os membros não pode haver graus de interesse e atenção tão grandes quanto os nossos?
- Claro que pode!
- E você não acha que, mesmo que não haja, nós, como pastores, somos os principais responsáveis por aumentar esses graus de interesse e atenção?
- (Corando) Evidente que sim... Mas...
- Então, o que você está querendo dizer afinal? Uma hora é o máximo que uma criança agüenta, não um adulto. Você quer que os pastores tratem os membros como crianças? Ou, quem sabe, como espectadores de programa de auditório, e nós, os apresentadores, precisando variar a atração a cada vinte minutos?
- (Confuso) Não... não foi isso o que eu quis dizer...

Segunda resposta:

- O que estou dizendo me inclui, naturalmente, pois estamos na época da pós-modernidade e na nossa sociedade informatizada a comunicação é muito dinâmica. Por isso eu disse que não há mais espaço para longas pregações tradicionais. Afinal, hoje a troca de informações privilegia a imagem, não o texto, mesmo que seja texto oral. “Uma imagem vale mais que mil palavras.” Imagem ou som, naturalmente. A dança, a música, isso tudo fala mais fundo ao coração do povo que uma explanação bíblica de uma hora. A imagem e o som emocionam, o texto cansa.

O primeiro pastor não responde. O outro insiste:

- O que você acha?

Como resposta, o primeiro faz um meneio negativo com a cabeça.

- Mas por que você acha que não?

Ele levanta os ombros. Em seguida, pega sua Bíblia, as chaves do carro e aponta para a porta da igreja, fazendo um barulho: “Vruuuuum.”

- (Irritado) Que é isso? Você está de brincadeira comigo? Fala alguma coisa!
- Certo: não concordo mas deixa pra lá, preciso ir embora.

- E por que ficou fazendo gestos e barulhos igual a um maluco?
- Ué: entendi sua explicação e parei de falar, para não cansar você.

04 julho 2006

Novo artigo no MSM - Era Marx satanista?

Era Marx satanista?

Segundo Richard Wurmbrand, autor de Marx & Satan (Era Karl Marx um satanista?), Karl Marx não visava em primeiro lugar a tão propalada igualdade comunista, mas sim a destituição de Deus de seu lugar na sociedade e no coração das pessoas. A julgar por uma das mais eficientes devastações que o comunismo empreendeu onde quer que fosse implantado - a da fé (conforme as histórias da Rússia, da Coréia do Norte, da Albânia, da China, de Cuba etc.) - , isso não parece tão longe da verdade. De fato, todas as expressões concretas do comunismo, além de não cumprirem com o que prometiam, combateram a religiosidade de modo tão eficaz que engendraram um povo descrente ou alienado da transcendência divina, além de uma cruel perseguição aos fiéis remanescentes.

Porém, não apenas os resultados diretos da implantação de regimes comunistas atestam a centralidade do combate à fé. Muitos aspectos da vida de Marx demonstram uma consciente intenção de opor-se a Deus e uma direta influência demoníaca, desde sua juventude. O que impulsionou Marx para o comunismo não foi uma inclinação altruísta, conforme reza a lenda. É o que explica Wurmbrand: "Não há evidências para a crença de que Marx mantinha nobres ideais com relação à humanidade e teria adotado uma postura anti-religiosa por ter visto a religião como obstáculo a esses ideais. Do contrário, Marx odiava qualquer noção de Deus ou deuses e estava determinado a ser o homem que ia tirar Deus do cenário - tudo isso antes de abraçar o socialismo, que seria apenas a isca para que proletários e intelectuais adotassem para si esse intento demoníaco." Uma das evidências disso é que o primeiro mestre comunista de Marx, Moses Hess, era também satanista.

Um de seus biógrafos, Robert Payne, endossa as afirmações de Wurmbrand ao mencionar um conto infantil inventado por Marx, relatado por sua filha Eleanor: a história interminável de Röckle, um mago infeliz que vendia relutantemente seus brinquedos ao diabo por ter feito um pacto com ele. Diz Payne: "Sem dúvida essas historietas sem fim eram autobiográficas. Marx tinha a visão do Diabo sobre o mundo, e a mesma malignidade. Às vezes parecia saber que cumpria tarefas do mal."

Impressiona o fato de não se achar em suas cartas a Engels expressões do desejo de justiça social, mas sim preocupações com dinheiro (Engels o sustentava) e com heranças vindouras, acompanhadas de linguagem obscena e maldosas referências à morte iminente de parentes ricos - um tio que ele chama de "cão velho", por exemplo, cujo falecimento é finalmente celebrado pelos dois correspondentes. A mesma frieza é percebida no modo sucinto como relata a Engels a morte da mãe: "Chegou um telegrama há duas horas dizendo que minha mãe morreu. O Destino precisou levar um membro da família. Eu mesmo estou com um pé no túmulo. Pelas circunstâncias, sou mais necessário que a velha mulher. Preciso ir a Trier para ver a herança." É de se notar especialmente esse tom de quem se refere a uma instância superior de decisão - não Deus, mas o Destino - atribuindo-lhe ares de sabedoria cósmica ("sou mais necessário").
Quando novo, suas cartas ao pai já atestavam que, embora tivesse recebido educação cristã, afastara-se resolutamente da fé. Escreveu: "Uma cortina caiu. Meu santo dos santos foi partido ao meio e novos deuses tiveram de ser instalados ali." Enviou-lhe como presente de aniversário poemas de teor bastante anti-religioso:

Por ter descoberto o altíssimo
E por ter encontrado maiores profundezas através da meditação
Sou grande como Deus; envolvo-me em trevas como Ele


Perdi o céu, disto estou certo
Minha alma, antes fiel a Deus,
Está marcada para o inferno


Mikhail Bakunin, com quem Marx criou a primeira Internacional Comunista, escreveu loas a Satanás de modo flagrante, vinculando-o estreitamente aos objetivos comunistas:

"O Supremo Mal é a revolta satânica contra a autoridade divina, revolta em que podemos ver o germe fecundo de todas as emancipações humanas, da revolução. Socialistas se reconhecem pelas palavras 'No nome daquele a quem um grande erro foi feito'."

"Satanás [é] o rebelde eterno, o primeiro livre-pensador e o emancipador de mundos. Ele faz com que o homem se sinta envergonhado de sua bestial ignorância e de sua obediência; ele o emancipa, estampa em sua fronte o selo da liberdade e da humanidade, instando-o a desobedecer e comer o fruto do conhecimento."

"Nessa revolução deveremos acordar o Diabo nas pessoas, estimular nelas as paixões mais vis. Nossa missão é destruir, não edificar. A paixão da destruição é uma paixão criativa ."

A positivação do Diabo como o libertador do homem – que, tal como Prometeu, teria contribuído diretamente para que acedêssemos ao conhecimento que o próprio Deus nos negara – parece ter criado raízes na intelectualidade universitária, de tal forma que esta já é noção comum em alguns círculos. No entanto, é interessante notar que esse "Satanás Prometeu", indissociável dos primórdios do comunismo, não passa de um erro teológico grave, que deixa de considerar que a árvore do fruto proibido não portava o conhecimento tout court, a ciência, mas sim (e basta checar Gênesis 2:17 para confirmá-lo) o conhecimento do bem e do mal. A bela lição judaica desse excerto bíblico é que, ao fazer a escolha de conhecer o bem e o mal sem a permissão (logo, a ascendência) de Deus, o homem não consegue se dominar e praticar sempre o bem – ensinamento que traz luzes inequívocas para a relação entre transcendência e moralidade. Não é por acaso que o tema do mal é tratado com profundidade por dois autores cujos escritos certamente se valem da cosmovisão judaico-cristã: a filósofa judia Hannah Arendt (A condição humana, Sobre a violência) e o romancista cristão Fiodor Dostoiévsky (Os demônios, Irmãos Karamazov), que nos legou por um de seus personagens a máxima: “Se Deus não existe, tudo é permitido”. Se é difícil, diante disso, evitar a conclusão de que o esquerdismo se imiscuiu na vida acadêmica portando em si toda a pulsão destrutiva anticristã que hoje caracteriza o meio, menos ainda se pode mascarar a associação dessa revolta contra Deus, presente nos escritos de Bakunin e Marx, à ausência de freios morais que caracterizou todos os regimes comunistas de que se teve notícia.

A vida de Marx é recheada de comportamentos inadmissíveis e acontecimentos trágicos, assim como ocorre com todos os que se envolvem de perto com o demônio. Vivia às custas de Engels e da herança de parentes, embora pudesse se sustentar com seu conhecimento de línguas e a formação especializada, um doutorado em filosofia. Sua esposa abandonou-o duas vezes, voltando sempre, e ele sequer compareceu a seu funeral. Três de seus filhos pequenos morreram de desnutrição, sendo que pelo menos um deles, segundo a própria esposa de Marx, foi vítima dos descuidos do marido com relação ao sustento da família. Tivera ainda um filho com a empregada, negado e tratado como se fosse de Engels - que revelou o engodo em seu leito de morte a uma das filhas de Marx, com a preocupação de que ela não endeusasse o pai. Tinha, com essa, três filhas, que morreram novas: duas delas, do cumprimento de pactos de suicídio com os maridos (um deles se arrependeu e não cumpriu o ato). Os livros que escreveu, além de trazer uma linguagem vociferante de ódio, vinham recheados de dados inventados e citações falsas de autores como W.E. Gladstone e Adam Smith - distorções consideradas intencionais por pesquisadores de Cambridge, não fruto de displicência. Era dado a bebedeiras e irascível muito além do limite da tolerância: perdia amizades facilmente. Pessoas de sua convivência lhe atribuíram diversas vezes o epíteto "ditador" e um coração rancoroso. O próprio Bakunin no final declara: "Marx não acredita em Deus mas acredita bastante em si mesmo e faz todo mundo o servir. Seu coração não é cheio de amor, mas de rancor, e ele tem muito pouca simpatia pela raça humana." Fiel ao sábio princípio de não separar o pensamento do autor de sua biografia, Paul Johnson comenta de modo dramático as conseqüências da herança marxista na Rússia e na China: "No devido tempo, Lênin, Stálin e Mao Tsé-Tung puseram em prática, numa imensa escala, a violência que Marx trazia em seu íntimo e que transpira em sua obra."

Escrevo sobre Marx e já me vem à mente a história de Stálin contada por sua filha, Svetlana Alliuyeva. Em Vinte cartas a um amigo, ela realiza uma crescente e emocionada catarse ao falar de sua infância e juventude. Presenciou o devastamento de seus entes queridos, alvo das desconfianças obsessivas do pai. Quando não eram assassinados por supostas traições ao regime - parentes próximos, como seus tios, e também amigos íntimos da família -, sucumbiam a gigantescas pressões de morte, seja progressiva (seu irmão alcoólatra) ou imediata (o suicídio de sua mãe aos 30 anos). Na última carta, uma frase sua em especial assusta pela desolação com que constata: "Em torno de meu pai havia uma espécie de círculo negro - todos os que caíam em seu interior pereciam, destruíam-se, desapareciam da vida..." Examinando-se de perto a vida de Karl Marx e o posterior desenvolvimento do marxismo, tem-se a impressão de que o mesmo poderia ser dito dele, sem temor algum de exageros.

Intuindo o quanto a Rússia adotaria seus princípios, pouco antes de morrer Marx manifestava orgulho especial pela recepção de suas obras no país. Décadas mais tarde, o impressionante slogan soviético "Banir os capitalistas da terra e expulsar Deus do céu" não só confirmaria essa intuição, mas, principalmente, tornaria flagrante a missão do projeto marxista desde estados embrionários: destruir a fé em Deus. Em países como o Brasil, essa anti-religiosidade tem sido amenizada para passar a falsa impressão de um comunismo mais conforme à necessidade humana de transcendência, algo indissociável de nossa cultura. No entanto, as duas histórias de Karl Marx – a de sua vida e a de suas idéias – são reveladoras do quanto marxismo e demonismo se entralaçam inequivocamente. É estudar para saber.
Fontes:

Alliyueva, Svetlana. Vinte cartas a um amigo: as memórias da filha de Stálin . Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1967.
Johnson, Paul. Os intelectuais. Rio de Janeiro, Imago, 1988, capítulo 3, p. 64 a 94.
Wurmbrand, Richard. Marx & Satan. Living Sacrifice Book Co, 1986, capítulo 2, p. 20 a 35. Edição brasileira: Era Karl Marx um satanista?, Voz dos Mártires.

Publicado no Mídia sem Máscara