30 novembro 2005

A farsa do projeto a favor do aborto


Com a maior pressa - afinal, como eu disse no post anterior, a descriminalização do aborto é um desejo antigo e voraz do partido do governo - , será votado hoje (ou já foi, pois o seria desde as 9h30 da manhã) o Projeto de Lei que, segundo a mídia, prevê a legalização do procedimento até a 12ª semana de gestação.

Isto, no entanto, é uma farsa. Elaborado por uma comissão do governo, de fato o texto do Projeto afirma, logo no início, que a lei proposta "assegura a interrupção voluntária da gravidez até doze semanas de gestação". Porém, a frase é apenas uma cortina de fumaça para o que vem depois. Basta prosseguir com a leitura até o artigo nono para descobrir que a proposta, na verdade, revoga os artigos 124, 126, 127 e 128 do Código Penal* - ou seja, simplesmente todos os artigos no código brasileiro que criminalizam a medida.
Assim, qualquer mulher, por qualquer motivo, passa a ter o direito de interromper sua gravidez a qualquer tempo, se assim o desejar e o médico o consentir. Sobram apenas duas exceções ridículas: quando o aborto é praticado contra a vontade da gestante e quando houver risco de lesão corporal ou morte da gestante.

Todos os direitos para a mulher, inclusive sob o propósito mais fútil; nenhum para a criança por nascer. Que tristeza.

E com a cumplicidade da mídia, para variar - já que nenhum jornalista está cobrindo o fato de que o formato textual do projeto foi feito para enganar o povo brasileiro, que é maciçamente contra o aborto. Reproduzem a medida do jeitinho que o governo quer: como se fosse apenas para fetos até a 12ª semana de gravidez.


Mas os cristãos verdadeiros e todos aqueles que são contra o aborto sabem que a questão do tempo de vida do feto é absolutamente irrelevante. Afinal, que critério somente temporal poderia negar o valor da vida de um ser humano dentro do ventre de sua mãe?

Sendo aprovado o cruel Projeto de Lei, só nos resta orar:

- Pelas crianças por nascer, para que Deus não as desampare;
- Pelas mães desesperadas demais ou despreocupadas demais com a concepção, para que sejam tocadas pelo Espírito e deixem seus filhos nascerem, sob a confiança de que Deus lhes proverá os meios para cuidar deles;

- Pelos médicos que forem obrigados a se submeter a esse "direito da mulher", para que tenham a coragem de enfrentar a oposição ao se negarem a praticar o procedimento;
- Por esta nação, para que peçamos perdão a Deus e que Sua ira não se abata sobre o Brasil (um amigo me lembrou de alguns países que sofreram desastres logo após a liberalização do aborto, como Espanha e EUA - vou procurar os dados e depois posto aqui). Com a ira de Deus não se brinca.

* Confira o texto compilado dos artigos: Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque; Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante; Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte; Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Mais informações:
Pró-vida de Anápolis

25 novembro 2005

Considerações pessoais sobre o aborto


Quando eu era adolescente, ainda antes de me converter ao cristianismo, fui com uma amiga, de pura curiosidade, a uma reunião do PT em um anfiteatro no centro do Rio de Janeiro. Nós saímos no meio, muito impressionadas: o clima geral era de um culto religioso bastante inflamado, que atingiu seu paroxismo quando, ao ser enunciada a palavra de ordem "legalização do aborto", as pessoas presentes entraram em uma espécie de delírio coletivo. Vociferavam nos microfones e rompiam em palmas diante da visão de um mundo que encarasse com absoluta tranqüilidade o destroçamento intra-uterino de bebês ainda vivos.

Eu devia ter uns 20 anos na época, estou com 34 hoje. Vê-se que essa diretriz é antiga, entranhada mesmo na mentalidade petista, como macabra missão. Em vez de zelar para que as mulheres só tenham filhos em momento propício, obstinam-se em que não haja culpa nem impedimento para a permissão de um assassinato no interior do corpo feminino - assassinato de seu próprio filho, sua própria filha.

Há mulheres que jamais se recuperam da decisão, mesmo quando têm outros filhos depois. Uma tristeza profunda as abate quando pensam "ele (ou ela) teria tantos anos esse mês". Para mim, a idéia sempre foi bastante estranha, bem antes de me tornar cristã, aos 24 anos. Eu jamais investiria contra uma outra vida dentro de mim. Mas fui uma criança especial nesse sentido, do tipo que pensa em educação dos filhos desde pequenininha. Meus pais enfrentaram dificuldades financeiras quando nasci. Talvez eu tivesse sido uma candidata ao procedimento. Talvez eu não estivesse aqui se minha avó não tivesse se proposto a ajudá-los na época. Quem sabe?

Não posso então deixar de me perguntar por que, afinal, um militante do aborto não consegue se colocar no lugar dos fetos que pretende ajudar a destruir. Um princípio elementar do tipo "não faça com os outros o que não gostaria que fizessem com você" seria suficiente para romper com todas as pretensões de legalidade com relação a um ato tão obviamente infame.

Como cristã, só me resta dizer: que se calem todos esses que, tal como deuses, pretendem assinar decisões sobre a vida e a morte; que Deus os cale. Em nome da saúde coletiva desta nação - se ainda existe alguma - , peço a Deus que cale essas vozes da destruição, que derrame seu Espírito para que percebam o que estão fazendo e se arrependam. Nilcéa Freire, Jandira Feghali e tantas mulheres que cauterizaram seus corações quanto a essa prática de abominação - peço aqui por elas, todas elas, que enxergam nisso alguma "liberdade" para a mulher, para que percebam que não é possível que Deus conceda a nós, que Ele criou e sustenta mesmo quando não O reconhecemos como criador e senhor da vida, a liberdade de matar.

E que, se for mesmo lançado o plebiscito "A interrupção da gravidez até a 12a semana de gestação deve ser permitida?", conforme enunciado no site da
Câmara dos Deputados, que esse mesmo Espírito que sustenta a vida possa estar presente no momento em que cada brasileiro sair de sua casa para votar - e que o bom senso, o amor, o temor a Deus prevaleçam. Essa é minha oração.

Obs. Não sou votante do Prona, mas há excelente
texto do Dr. Enéas sobre isso. Para ser lido com carinho.

23 novembro 2005

O Manifesto do Partido Comunista

A estrutura argumentativa de O Manifesto do Partido Comunista é relativamente simples, consistindo de forma geral do seguinte arrazoado:

(a) A sociedade é dividida em classes que estão em luta entre si: classe dominante (burguesia) e classe oprimida (proletariado);
(b) Para acabar com a opressão dos proletários, a solução é acabar com a classe dominante, portanto, com a burguesia;
(c) Em um primeiro momento, o proletariado se une ao Estado para compor uma "classe dominante" só para expropriar e acabar com a burguesia;
(d) Em um segundo momento, não há mais classe dominante - ou, melhor dizendo, o Estado passa a ser a única classe dominante, controladora dos bens e dos modos de produção;
(e) Isto se fará de forma autoritária e/ou violenta.

É simples percebê-lo. Leiam esse trecho:


O proletariado utilizará sua supremacia política para arrancar pouco a pouco todo capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado em classe dominante e para aumentar, o mais rapidamente possível, o total das forças produtivas. Isto naturalmente só poderá realizar-se, em princípio, por uma violação despótica do direito de propriedade e das relações de produção burguesas (...)

Ou seja: a tal "justiça social", do ponto de vista do comunismo, nada mais é que uma violenta reversão da relação de poder. No trecho acima, em um primeiro momento a conjunção proletariado + Estado passa a ser a nova classe dominante, mas apenas para fins estratégicos: para tirar da burguesia e dar ao Estado. Qual a nobreza disso, se (a) o processo prima pela violência, no melhor estilo "os fins justificam os meios" e (b) o Estado é o beneficiário do processo? Promove-se uma convulsão social (com perdas terríveis para a sociedade) apenas para fortalecer o Estado.


Mais adiante, veja como fica claro que, num segundo momento, o proletariado perde seu status de classe dominante, e o Estado passa a ser o senhor absoluto sobre tudo:

Uma vez desaparecidos os antagonismos de classes no curso do desenvolvimento e sendo concentrada toda a produção propriamente falando nas mãos dos indivíduos associados, o poder público perderá seu caráter político. O poder político é o poder organizado de uma classe para a opressão de outra. Se o proletariado, em sua luta contra a burguesia, se constitui forçosamente em classe; se converte-se, por uma revolução, em classe dominante e, como classe dominante, destrói violentamente as antigas relações de produção, destrói juntamente com essas relações de produção, as condições dos antagonismos entre as classes e as classes em geral e, com isso, sua própria dominação como classe.

O resultado: ex-burgueses empobrecidos e uma fé absurda em que "o aumento das forças produtivas" nas mãos do Estado produza por magia um enriquecimento igualitário da população sob um governo comunista. Em que países comunistas houve esse enriquecimento? Nenhum. Ao empobrecimento geral do povo só se seguiu o enriquecimento do Estado - além do aumento de seu despotismo. Confira abaixo as medidas comunistas para acabar com a classe burguesa e seja sincero: são justas? A grande maioria delas, não. E fique atento: a número 1 e a número 2 já estão em andamento no Brasil, com, respectivamente, o MST (que é exatamente isso: o proletariado expropriando as terras, que passarão ao Estado) e os mais de 30% de impostos sobre o salário em vigor.

1. Expropriação da propriedade latifundiária e emprego da renda da terra em proveito do Estado;
2. Imposto fortemente progressivo;
3. Abolição do direito de herança;
4. Confiscação da propriedade de todos os emigrados e sediciosos;
5. Centralização do crédito nas mãos do Estado por meio de um banco nacional com capital do Estado e com o monopólio exclusivo;
6. Centralização, nas mãos do Estado, de todos os meios de transporte;
7. Multiplicação das fábricas e dos instrumentos de produção pertencentes ao Estado, arroteamento das terras incultas e melhoramento das terras cultivadas, segundo um plano geral;
8. Trabalho obrigatório para todos, organização de exércitos industriais, particularmente para a agricultura;
9. Combinação do trabalho agrícola e industrial, medidas tendentes a fazer desaparecer gradualmente a distinção entre a cidade e o campo;
10. Educação pública e gratuita de todas as crianças, abolição do trabalho das crianças nas fábricas, tal como é praticado hoje. Combinação da educação com a produção material etc.

Em lugar da antiga sociedade burguesa, com suas classes e antagonismos de classes, surge uma associação onde o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos.


Eu diria: em lugar da antiga sociedade burguesa, com suas classes e antagonismos de classes, surge um Estado superpoderoso que sufoca os indivíduos e se perpetua no poder através da ideologia (pois teme sempre que o povo possa se revoltar a ponto de derrubá-lo, assim como foi derrubada a burguesia), mantendo a todos em uma magnífica pobreza igualitária, financeira e mental. Enquanto os cubanos não têm o direito mais básico de ir e vir nem condições para comprar um simples rolo de papel higiênico - eles se limpam com jornal, todos eles - , Fidel Castro, o representante do Estado cubano, é apontado na revista Forbes como um dos mais ricos do planeta.

Isto é o comunismo, da própria boca dos comunistas: tirar dos mais ricos para dar ao Estado, reduzir a população inteira à pobreza, concentrar todo o poder e a riqueza no Estado. Tudo para o Estado, nada para o povo. Idolatria, em suma: o Estado é o deus do comunismo.

Não fui eu que inventei: está no Manifesto do Partido Comunista. Ainda é aplicado em muitos países no mundo todo. E é ideologia preferencial dos partidos políticos brasileiros, incluindo o que está no poder.

Esquerdistas por eles mesmos

Conversando com um amigo cristão de boas intenções, fui advertida de que deveria moderar forma e conteúdo nos meus posts sobre o esquerdismo, em prol de uma visão mais "equilibrada" e que "reconhecesse todo o lado bom da esquerda, a sua manifestação a favor dos pobres etc.". Disse-lhe que não devemos ser condescendentes com o mal e que a tal "visão equilibrada" era efeito da propaganda de esquerda de que ele ainda estava imbuído. Não me ouviu.

Não digo que lhe darei razão, mas que minha única concessão ao que me pediu consistirá do seguinte: durante algum tempo, ao postar qualquer coisa sobre o esquerdismo, pretendo reduzir ao máximo os textos de minha lavra, em vez disso citando autores - de esquerda. Minha intenção é mostrar que aquilo que nós, anti-esquerdistas, falamos sobre o esquerdismo não é criação da nossa cabeça, mas informações que nos chegaram a partir da leitura deles mesmos - dos esquerdistas.

Assim, para inaugurar a minha nova série de textos anti-esquerdistas, vou fazer apenas isso por enquanto: publicar esquerdistas, com uma ou outra observação adicional. Que o leitor tire sua conclusão quanto a forma e conteúdo.

A começar a partir do próximo post, citação de nada menos que a obra de Marx e Engels, O Manifesto do Partido Comunista, de 1848.

16 novembro 2005

O comunismo morreu?

Se, como dizem, o comunismo morreu, como é que tanta gente parece continuar acreditando nele? E, mais que acreditando, esforçando-se de corpo e alma para sua implantação?

Forças de esquerda estão se mobilizando no Brasil e na América Latina em geral para tomar o poder de forma gradativa, democrática no início, como uma fachada, mas com fins claramente totalitários, como todo regime comunista que se preze. Não sou eu que afirmo isto, mas um dos fundadores do PT e homem forte por trás das articulações do Foro de São Paulo, que reúne o continente em torno de planos para a implantação de regimes autoritários de esquerda: Marco Aurélio Garcia. O colunista Olavo de Carvalho e o site conservador-liberal Mídia sem Máscara têm tocado insistentemente no assunto, dada a sua gravidade, e até o presidente Lula passou a admitir a existência do Foro, negada há quinze anos! Afirma nosso presidente em discurso atual: "...nesses 30 meses de governo, em função da existência do Foro de São Paulo, o companheiro Marco Aurélio tem exercido uma função extraordinária nesse trabalho de consolidação daquilo que começamos em 1990, quando éramos poucos, desacreditados e falávamos muito."

Mas o que exatamente diz o grande articulador do Foro, Marco Aurélio Garcia? Essa frase reveladora - e assustadora, para quem rejeita os ideais comunistas:

"Primeiramente temos de dar a impressão de que somos democratas. No início, teremos que aceitar certas coisas. Mas isto não durará muito tempo."

Essas informações estão no excelente artigo de Heitor de Paola, A colheita I - O Eixo do Mal Latino-Americano. Aproveite e dê uma passada em Brazilian Plotter Buys Time for Chavez; Has Links to Terrorists and to Saddam. E visite todos os sites que De Paola dá como referência nas notas de seu artigo. Todos.

Quem sabe, assim, aos poucos a gente acabe com o mito de que o comunismo morreu, e acorde para o terror que se avizinha como uma nuvem negra sobre nosso país e todo o continente latino. Quem sabe ainda dê para fazer alguma coisa!

Liberdade na internet ameaçada II: divulguem!

De acordo com as informações que postei aqui, a internet é gerida por um grupo privado na Califórnia, sem fins lucrativos, em cujas decisões o governo americano não dá nenhum pitaco. Quem está descontente com isso - ou seja, quem é interneteiro assumido e acha que a gerência dos EUA é impositiva ou favorece o país de alguma maneira - , levante a mão!

Ninguém? Ok, certo. Maravilha.

Pena que não é a opinião de um negócio que ninguém sabe ainda para que serve, chamado Cúpula Mundial para a Sociedade da Informação, da qual o Brasil é membro ativíssimo, que quer porque quer tirar os EUA do gerenciamento das páginas eletrônicas internacionais. Eles têm se reunido para isso. Com que finalidade, devemos nos perguntar?

Eles aprovaram na noite desta terça-feira a criação do Fórum de Governança da Internet. O governo brasileiro com tudo na brincadeira: o representante da Casa Civil da Presidência da República, André Barbosa, segundo o Globo on line de hoje, "qualificou a aprovação como uma grande vitória" - para quem, cara pálida?

Quem mais está dentro? Eu já disse aqui, mas convém repetir: tão ativos como o Brasil, estão a China, o Irã, a Arábia Saudita. Quais desses três países permite o acesso livre, sem restrições, dos usuários aos conteúdos da internet? Nenhum deles. Eu gostaria, mui sinceramente, que alguém me explicasse em detalhes - a mim e à nação brasileira - o que vai acontecer se o controle mundial da internet sair das mãos de um país democrático, que até agora não tem dado problema nenhum quanto à liberdade de ir e vir no espaço virtual, para se submeter a um grupo de países antidemocráticos e que restringem tal liberdade. O senhor André Barbosa precisa nos explicar o que o Brasil está fazendo em tão excelente companhia tratando desse assunto. Bom, para não ser injusta, devo acrescentar que a Índia também está entre esses países (mas não nos esqueçamos que a internet lá ainda é só basicamente para ricos anglófonos) e a União Européia deu seu derradeiro apoio à criação do Fórum.

O Brasil parece mesmo ser um país muito empenhado na questão: ainda segundo a notícia do Globo de hoje, partiu de brasileiros a reivindicação de que a convocação do fórum se dê pelo secretário-geral da ONU. Explicações para isso não são dadas. E o representante da Anatel, José Bicalho, explica que "o Fórum terá moldes bem parecidos com o que aplicamos no comitê brasileiro de gestão da internet, como a participação livre da sociedade civil". Explica? Bom, para mim, não parece estar muito explicado, não. "Participação livre da sociedade civil" parece soar tão esquisito como Emir Sader falando de uma "gestão multilateral da internet, transparente e democrática, com a plena participação dos governos, do setor privado e de organizações civis". Ah. Sociedade civil e governo. Entendi.

Depois dizem que a tendência para o totalitarismo seguida por este governo é pura ilusão. Mentira. Ele quer estender tentáculos para todos os lados. Este post é um alerta a todos os que detestam a intervenção governamental excessiva e sobretudo prezam sua liberdade. Divulgue onde e como puder.

A magia da lata

Quem não conhece está perdendo: fotos lindíssimas e em grande estilo, feitas através de um singelo instrumento - uma lata furada de leite Ninho. O blog da Lata Mágica mostra o trabalho dos fotógrafos William e Odilene, com belos e comoventes flagrantes das ruas de Recife. O blog é constantemente atualizado, valendo a visita freqüente. Confira!

Eu ia postar as duas fotos de que mais gosto aqui, mas o Blogger não deixou... Então, não seja preguiçoso e vá lá para ver as fotos!

Fé cega, faca amolada

Do meu amigo Cesar Miranda, do Pró-Tensão:

O socialista acredita tanto no socialismo que é capaz de sacrificar a própria vida dos outros pela causa. Quanto mais vida alheia sacrificar, mais admirado será no meio dos fiéis do socialismo. Aqui no Brasil, graças a Deus, eles ainda não tiveram coragem de efetuar um genocídio - como seus irmãos cubanos, russos e chineses fizeram - e preferem “apenas” fraudar, roubar, comprar deputados, assaltar banco, mentir sistematicamente aos eleitores, cometer toda sorte de trapaça, seqüestrar, se associar aos produtores e traficantes de droga etc. etc. etc., coisas que também são admiráveis aos olhos marxista-leninistas. Enquanto isto, o “deus” comunismo jamais deu uma única demonstração de que vale tanta vilania, mas os fiéis seguem com seu apoio. Fé é isto.

15 novembro 2005

O processo de islamização da Europa

Afirmações públicas reveladoras

"O Islã voltará à Europa como conquistador e vitorioso."
Sheik Yusuf al Qaradawi, um dos mais influentes clérigos sunitas

"Um dia, milhões irão deixar o hemisfério do sul e ir para o norte. E não o farão como amigos, mas para conquistar o território: através de seus filhos. Os úteros de nossas mulheres nos darão vitória."
Houari Boumedienne, ex-presidente da Argélia, em discurso na ONU (1974)


Fatos

- Os imigrantes islâmicos radicais começaram a chegar ao continente por volta de 1950, em maioria membros da Irmandade Islâmica fugindo da queda de regimes no Egito e na Síria (onde seriam perseguidos), em minoria estudantes para as universidades européias;
- Esses imigrantes fundaram mesquitas e instituições diversas ligadas ao islamismo - e todo esse movimento de expansão contou com o apoio financeiro maciço da Arábia Saudita e outros países abastados. Era um critério fundamental que os beneficiários do financiamento fossem, para esses países, não moderados, mas radicais, para espalhar o extremismo islâmico pela Europa;
- A generosidade das leis de imigração européia foi outro fator de atração: asilo, benefícios vários (seguro-desemprego, saúde, moradia), liberdade e possibilidades de expansão inexistentes nos países de origem;
- Depois do ataque às torres gêmeas e da evidente ação da al Qaeda no mundo, as autoridades passaram a dar mais atenção ao financiamento exterior e o dinheiro da Arábia Saudita começou a correr mais devagar. Hoje, a principal fonte que sustenta os radicais islâmicos na Europa é o crime, e alguns grupos, principalmente do norte da África, aliam-se a organizações criminosas internacionais, relacionados a contrabando de drogas e imigração ilegal para a Europa. É dessa forma que tais grupos conseguem milhões para a "causa";
- Os imigrantes do Oriente Médio ou do norte da África que chegam à Europa não são necessariamente ligados à religião muçulmana, mas são abraçados no novo continente por uma rede de propaganda e aliciamento que os leva para o extremismo. Aproveitam-se bastante do fato de que a cultura européia, hoje, encontra-se mergulhada em uma eterna e viciada autocrítica, em uma lógica relativista e suicida, principalmente desde os anos 60 - na França, os Foucault e Derrida da vida não me deixam mentir. Neste quadro, o imigrante não tem motivo significativo para se identificar com a cultura local, que considera "fraca", e sim com a "força" do radicalismo islâmico;
- Agências de inteligência locais afirmam que a nova face da al Qaeda na Europa é composta de europeus de nascimento: por exemplo, nos ataques de 4 homens-bomba em Londres, 3 tinham nacionalidade inglesa. É significativo, também, o fato de que grande parte do planejamento do ataque de 11 de setembro ao World Trade Center foi levada a cabo na Espanha e na Alemanha;
- A Europa já não é mais a mesma de trinta anos atrás. Nesse passo de imigração, em questão de poucas décadas a maioria da população européia será composta de descendentes de imigrantes, dos quais boa parte será muçulmana.

Fonte: FrontPage Magazine, entrevista de Jamie Glazov com Lorenzo Vidino, especialista do Investigative Project on Terrorism (Washington)

13 novembro 2005

Conheça René Girard


Somos chamados hoje, mais que nunca, a entender por que a violência parece chegar a níveis assustadores em todo o mundo. Tenho feito referências aqui a um dos autores mais importantes da atualidade, René Girard, cujo pensamento, fundado sobre princípios cristãos - Girard é católico - , faz algo que não é de costume em estudos de religião: lança uma luz rara sobre a história e as motivações humanas.
© 1995 Herlinde Koelbl/Munich
Entrevistas com Girard

- A quem tiver ouvidos (português)
- Sobre o desejo mimético hoje (inglês)
- Anthropoetics (inglês)
- Em francês (Des textes > Marie-Louise Martinez > entretien avec René Girard)
Observação: essa entrevista em francês é maravilhosa e tem o efeito de um verdadeiro curso sobre Girard. Prometo sua tradução para publicação aqui.
- Em italiano

Vídeos com aulas de Girard

Links variados

Trecho da entrevista do Estado de São Paulo - 15/05/2005

O cristianismo é superior às outras religiões? - Sim. Toda a minha obra tem sido um esforço para mostrar que o cristianismo é superior e não apenas mais uma mitologia. Na mitologia, uma multidão enfurecida se mobiliza contra bodes expiatórios responsabilizados por alguma crise enorme. O sacrifício da vítima culpada pela violência coletiva encerra a crise e funda uma nova ordem ordenada pelo divino. A violência e o uso de bodes expiatórios estão sempre presentes na definição mitológica do próprio divino. É verdade que a estrutura dos Evangelhos é semelhante à da mitologia, em que uma crise é resolvida por uma única vítima que une todos contra ela, reconciliando assim a comunidade. Como pensavam os gregos, o choque da morte da vítima provoca uma catarse que reconcilia. Ele extingue o apetite pela violência. Para os gregos, a morte trágica do herói permite a volta das pessoas comuns à sua vida pacata. Entretanto, nesse caso, a vítima é inocente e os "vitimizadores" são culpados. A violência coletiva contra o bode expiatório como ato fundador, sagrado, revela-se uma mentira. Cristo redime os "vitimizadores" ao suportar seu sofrimento, implorando a Deus para "perdoá-los porque eles não sabem o que fazem". Ele se recusa a pedir a Deus para vingar sua vitimação com uma violência recíproca. Prefere mostrar a outra face. A vitória da cruz é a vitória do amor contra o ciclo de violência do bode expiatório. Ela invalida a idéia de que o ódio é um dever sagrado. Os Evangelhos fazem tudo o que a Bíblia, no Velho Testamento, fez antes, reabilitando um profeta vítima, uma vítima erroneamente acusada. Mas eles também universalizam essa reabilitação. Eles mostram que, desde a fundação do mundo, as vítimas de todos os assassinos ao modo da Paixão foram vítimas do mesmo contágio de multidão, como Jesus. Os Evangelhos tornaram essa revelação completa porque dão à denúncia bíblica da idolatria uma demonstração concreta de como os falsos deuses e seus sistemas culturais violentos são gerados. Essa é a verdade que falta à mitologia, a verdade que subverte o sistema violento deste mundo. Essa revelação de violência coletiva como uma mentira é o marco do judaico-cristianismo. É isso que é único no judaico-cristianismo. E esse caráter único é verdadeiro.

Leia também: minhas ressalvas a Girard

12 novembro 2005

O secularismo e o Islã


No dia 2 de novembro o assassinato ritual de Theo Van Gogh fez um ano. Achei hoje por acaso duas entrevistas da deputada holandesa-somali Ayaan Hirsi Ali, que trabalhou junto com Van Gogh no filme que motivou o ódio dos radicais islâmicos e resultou na extensão da Fatwa de morte também a ela. Ela relembra o que sofreu nas mãos da família e da sociedade como mulher muçulmana, forçada a se submeter à ablação do clitóris e a se casar contra a vontade. Enfrentou isso tudo, fugiu e renunciou à religião, tornando-se hoje uma das maiores opositoras do Islã, praticamente a única mulher em evidência nessa situação.

Se os europeus a ouvissem...

Entrevista ao Der Spiegel (em português)

Entrevista ao Die Welt (em português de Portugal)

Coerente com o que passou, Ayaan compreende o perigo da mentalidade islâmica para a democracia, e eu fico muito contente que ela tenha conseguido se libertar do jugo de uma cultura sufocante para denunciar seus males à sociedade ocidental. Porém, é triste constatar que o único Deus que ela conheceu foi o impiedoso Alá do islamismo. Desejo de coração que ela possa reencontrar sua religiosidade perdida nas mãos amorosas - e nada machistas - do Pai de Jesus Cristo, que nos aceita como filhos.


Desejo isto sobretudo porque sei que, escorada apenas no liberalismo e no laicismo, a luta de Ayaan se torna praticamente inócua contra a fúria do autoritarismo islâmico. Como cristã, sei que só o Deus da Bíblia é páreo para Maomé - com o acréscimo da verdadeira liberdade interior, do espaço para a subjetividade que o cristianismo, ao contrário do islamismo, proporciona a quem crê em Jesus. Certamente, é pela consciência da fraqueza do laicismo que os analistas mais perspicazes já vêem a Europa como fadada a se islamizar por completo - a "satisfação", segundo o jornal Le Monde, do Ministro do Interior Nicolas Sarkozy com a instituição da Fatwa pela UOIF para acalmar os levantes em Paris, sem entender o que isso significa para o Estado e suas leis, denota o quanto os europeus estão cegos para com o processo de islamização que se acelera a olhos vistos: seja pela ocupação espacial (o número de descendentes de muçulmanos aumenta em progressão geométrica comparado ao dos europeus, uma população envelhecida que quase não tem filhos), seja pelas conversões crescentes que vêm ocupar o vazio deixado pelo abandono maciço do cristianismo, funcionando como um (falso) antídoto para o desespero de quem se sente esmagado sob o peso do relativismo e da ausência de sentido preconizados pela modernidade.

A Europa não soube entender nem preservar o imenso tesouro que tinha nas mãos... e agora caminha, em silêncio, cegamente, para uma prisão religiosa que, diante da aridez do secularismo, lhe parecerá confortável demais - tristemente confortável.

11 novembro 2005

Mentiras da esquerda e os Neos ao contrário

O jornalista americano David Horowitz escreve em seu blog:

A esquerda ainda está propagando as mentiras mortais de que Saddam 1) era um homem sem religião que não apoiava a al-Qaeda, 2) não participou dos ataques muçulmanos que se iniciaram nos EUA com a explosão do World Trade Center em 1993, 3) não providenciou proteção em solo iraquiano a terroristas islâmicos como Zarqawi, e 4) não teve seus planos frustrados pela guerra de março de 2003: fabricar armas de destruição em massa para uso contra os EUA e seus aliados. Todas essas mentiras da esquerda foram refutadas cuidadosamente, mas mesmo assim continuam a ser propagadas.

O filósofo brasileiro Olavo de Carvalho nos informa em artigo recente:

Quem disse que não havia armas de destruição em massa no Iraque? (...) Os relatórios militares dizem que foram encontrados até agora: 1,77 toneladas métricas de urânio enriquecido; 1.500 galões de agentes químicos usados em armas; 17 ogivas químicas com ciclosarina, um agente venenoso cinco vezes mais mortal que o gás sarin; mil materiais radiativos em pó, prontos para dispersão sobre áreas populosas; bombas com gás de mostarda e gás sarin. Se essas coisas não são armas de destruição em massa, são o quê? Peças do estojo “O Pequeno Químico”? [As informações, revela ele, estão no livro do jornalista famoso Richard Miniter, Disinformation: 22 Media Myths That Undermine the War on Terror.]

O autor francês David Dawidowicz escreve no site Liberty Vox:

Entre os nomes dessas "testemunhas" [comunistas em geral, entre eles muitos judeus] que assinaram [um documento atestando a culpabilidade dos "Camisas Brancas", grupo de médicos, na maioria judeus, que teriam atentado contra a vida de Stálin em hospital na URSS], eu ainda me lembro do Dr. Leibovici, burguês abastado dos bairros chiques (...), que eu conhecia por ter me operado uma vez. Quando tive a oportunidade de lhe perguntar sobre a prova de que ele dispunha para afirmar que os "Camisas Brancas" eram culpados, ele me respondeu: "Não tenho! Mas confio no Partido. Qualquer dúvida só serviria aos objetivos imperialistas dos inimigos da URSS. Lembre que, sem a URSS, o mundo estaria hoje sob o domínio nazista e você reduzido a picadinho hoje."

O autor prossegue, discorrendo sobre os estranhos escrúpulos da esquerda militante:

Ela [a esquerda] jamais se manifestou em defesa das dezenas de milhões de vítimas do bolchevismo de Lênin, Trotski, Stálin, Mao Tsé-Tung ou Pol-Pot; jamais em defesa das centenas de milhares de chechenos vítimas da repressão assassina da ex-URSS, jamais pelas milhões de vítimas do racismo árabe do Sudão, nem pelos infelizes habitantes da Aceth, submetidos a chantagem e às aterrorizantes extorsões do exército indonésio. Ela nunca se manifestará em defesa das centenas de milhões de mulheres vítimas da brutalidade machista e obcecada do Islã, nunca pelos reféns assassinados pelos narcomarxistas da América do Sul, nunca em defesa das vítimas do totalitarismo castrista, jamais contra a colonização do Tibete pela China comunista. (...) Curiosamente, seu senso de humanidade só se manifesta de modo escandaloso quando o pretenso opressor é americano ou, principalmente, judeu.

Termina seu texto com um verso revelador de Louis Aragon, poeta do comunismo. Tradução livre:

Que nos enganem, que nos seduzam / Dando-nos o mal pelo bem / Aquele que de nada sabia / E que considera o mal como bem / Não é pelo bem que morre?
Isso tudo só evidencia que - pela revolução, pelo ideário, pela "causa" - mentiras já são parte fundamental da estratégia de ação das esquerdas, propagando-se tranqüilamente pela boca de professores, escritores, filósofos, religiosos, jornalistas... No entanto, em que bem isto pode resultar no longo prazo? E, perdidos entre tantas mentiras, sem conseguir nem querer mais distingui-las da verdade - releia o poema de Aragon - , os militantes de esquerda corrompem em primeiro lugar a própria consciência, em seguida a alheia, realizando um efeito dominó que permitiu e continuará permitindo, travestidas de lisura, as maiores torpezas, as maiores tragédias.

Infelizmente, o mundo ocidental está todo tomado pela ideologia de esquerda, politicamente correta, dona dos preconceitos, propagadora da positivação da inveja e do totalitarismo da vítima, que, ao justificar até assassinato, fomentam mais e mais violência. No Brasil, o movimento dos poucos que ousam desafiar esse estado de coisas ainda é pequeno. Resta perguntar: quando finalmente romperemos o cordão de isolamento esquerdista que impede o brasileiro de participar das discussões mundiais relevantes sem viés ideológico, com real acesso às recentes descobertas? Quando é que o brasileiro descobrirá que o mito tranqüilizador é mortal, enquanto a verdade, mesmo cruel, é libertadora? Às vezes tenho a impressão de que o Brasil é todo composto por Neos (personagem principal do filme "Matrix") ao contrário: todo mundo toma diariamente a pílula do esquecimento e da enganação, fornecida em doses maciças por outros enganadores e enganados. Só resta suspirar de alívio pelos gatos pingados que ainda constituem a lucidez do país.

10 novembro 2005

Paris 2005 = guerra civil do Líbano!

Comentário esclarecedor e comovente de um libanês, postado em destaque por um blog francês sobre a questão árabe

Tradução minha

"Uma palavrinha para dizer a vocês que no Líbano ninguém está surpreso com a situação atual na França. Todos aqui esperavam por isso e infelizmente nós acreditamos que será pior nos próximos anos. Os acontecimentos são parecidos com os dos anos de 1969-1970 quando os habitantes dos burgos - os palestinos - começaram a promover agitações, queimar carros, fazer reféns etc. E a reação da França é a mesma do Líbano de trinta anos atrás.

Os partidos de esquerda vêem a solução no social; viu-se no entanto que não pode ser assim: milhares foram gastos no Líbano, mas isso só reforçou as reivindicações dos revoltosos. Eu espero que as coisas se acalmem nos próximos dias, mas sei também que esses acontecimentos trazem as premissas de uma guerra civil nos próximos anos. Pois, diante de um Estado fraco que não envia suas tropas em campo (foi o caso do Líbano nos anos 70), os revoltosos se tornam mais confiantes e melhor equipados, e os habitantes acabam pegando em armas para se defender. O resultado é a criação de milícias e fracasso total. Esse cenário é "triste" mas infelizmente foi o que ocorreu aqui. Não vejo por que não ocorrerá na França, diante dos fatos:

1- Mais de 10 000 veículos [ver nota 1, lá embaixo] queimados em 10 dias. Esse número ultrapassa o de veículos queimados em 15 anos de guerra no Líbano!

2- As autoridades sunitas [nota 2] na França emitiram uma Fatwa [notas 3 e 4] para conclamar os revoltosos à calma. Isso é muito perigoso, pois a qualquer hora pode ser emitida uma Fatwa para levá-los a se manifestarem contra ou a favor qualquer um ou qualquer coisa. Dá a impressão de que se está no Irã ou na Arábia! Nem no Líbano isso aconteceu durante a guerra.

3- Igrejas e escolas foram atacadas. É preciso reconhecer a realidade de que não se trata de uma luta de classes, é bem mais perigoso que isso. Tudo o que está acontecendo me é doloroso, até porque conheço onde isso pode dar e e não queria que vocês vivessem o que eu já vivi.

Abraços,
C.C."
Nota 1: Os jornais franceses disseram que iam "parar de noticiar esse tipo de dado por causa de sensacionalismo", que em novilíngua significa "peneira tentando tapar sol". Você pode não achar esse número em lugar nenhum.

Nota 2: Trata-se da UOIF - União das Organizações Islâmicas da França. Você sabia que existia essa entidade?
Nota 3: Atenção, segundo os blogueiros, este fato não está saindo no noticiário nem na França, imagine aqui. Se eu achar em algum lugar além da web, será raridade.
Nota 4: Ordem dirigida a muçulmanos por autoridades do islã, que precisa ser obedecida em nome de Alá. Costuma ser usada também para decretar a morte de um "infiel". O escritor Salman Rushdie recebeu uma dessas em 1989, que vale até hoje. A análise do autor do comentário é pertinente, pois, se os muçulmanos devem seguir a ordem para a paz - sem que isso seja contrariado pelas autoridades francesas, com amplo respaldo social - , por que não a seguiriam, se fosse para a guerra ou o assassinato? Note, igualmente, que a maioria dos insurgentes é composta de descendentes de muçulmanos, e supõe-se que eles a cumpram. Isso significa uma segunda separação entre eles e o país: além de não se verem como franceses, não se sentem aptos a cumprir a lei francesa, mas a islâmica - como de fato muitos deles têm afirmado durante os conflitos.
A situação é mesmo feia. O Estado francês será clivado, a não ser por um milagre.

09 novembro 2005

Violência em Paris (VI) - blogs e islamização

Para o bem e para o mal, a internet tem um poder fantástico de organizar as pessoas fora do circuito fechado das instituições e da mídia de orientação cada vez mais uniforme. Uma prova do lado do mal: as conspirações em blogs para atacar Paris. O jornal alemão Spiegel (ok, eu não leio alemão, mas essa é uma versão do jornal em inglês, certo?) mostra as conversas dos jovens das periferias, com instruções precisas para os ataques, frases de encorajamento do tipo "Obrigado, Clichy, Montfermeil está contigo" logo depois de bombardeios, fotos das destruições, tudo isso recheado de palavras de ordem relacionadas ao islamismo.

Reproduzo aqui dois dos exemplos mais impressionantes:

Brahim diz:

"Bom trabalho, pessoal. A polícia está morrendo de medo da gente, tudo vai ter que queimar, começando na segunda-feira, Operação Sol da Meia-Noite agora, diga a todo mundo, encontro com Momo e Abdul na Zona 4 ... jihad Islamia Allah Akhbar."

"Jihad Islamia Allah Akhbar" fala por si, não?

Samir diz:

"Você acha mesmo que a gente vai parar agora? Tá doido? Vai continuar, non-stop. Ninguém vai desistir. Os franceses não vão fazer nada e logo logo a gente vira maioria aqui."

Como é que Samir sabe que "os franceses" - repare como eles não se sentem franceses, mesmo tendo nascido lá - não vão reagir? E por que a promessa de "virar maioria" é tão atraente? Isso mesmo: a consciência do politicamente correto que paralisa a França e o separatismo da cultura islâmica. Eles não estão reclamando por serem "excluídos", eles estão se insurgindo para se distinguirem cada vez mais do establishment liberal que os acolheu, constituírem suas próprias leis e "engolirem" por fim a sociedade francesa. É notório que, quando dizem "os franceses não vão fazer nada", estão bastante cientes da fraqueza de quem eles querem atingir.

O processo de islamização da Europa a que muitos analistas aludem (em português, Olavo de Carvalho e MSM; em inglês, Jihad Watch, FrontPage Magazine, por exemplo) não é brincadeira, mas uma realidade. Na Holanda mesmo, onde o cineasta Van Gogh foi assassinado, uma amiga que morou lá há quinze anos - há quinze anos! - me disse esses dias que os ônibus, metrôs e vias públicas em geral já traziam placas em holandês e em árabe. A islamização é galopante e acontece pelas duas vias: pacificamente ou não.

O próximo que vier me dizer que "a causa dos levantes é a pobreza" vai ouvir simplesmente "leia as notícias" - mas notícias de verdade, não esse negócio água-com-açúcar da grande mídia.

Violência em Paris (V) e a "Al Reuters"

Em um site, leio que no Cairo um sacerdote muslim egípcio, responsável por chamar os muçulmanos para as orações diárias, não suportou mais o peso de só ter filhas mulheres - uma humilhação para a cultura islâmica - e, depois de ter expulsado a mulher de casa, esfaqueou as sete no quarto enquanto dormiam, matando quatro. Alguém poderia argumentar que a lei islâmica não suporta assassinatos de crianças do sexo feminino, mas é fato que a misoginia, a violência e o senso de honra associados a filhos homens, aspectos da cultura de fundo islâmico, é determinante nessa história. A notícia em inglês está AQUI, e uma análise interessante do que ocorreu AQUI. Se você quiser ler a notícia em português, se for para o Terra terá a mesma carga de informação, mas se por azar acessar o Yahoo Notícias irá verificar que esse segundo site fez igualzinho a mídia francesa com relação aos levantes em Paris, distorcendo por completo a notícia: omitiu o cargo religioso do homem e o motivo do crime, enfatizando, em vez disso, ridículas discussões domésticas entre o homem e as mulheres da casa. Sorte minha (e dos leitores deste blog) que eu já tinha lido a nota completa antes de ler a versão adulterada em português. Mas não admira: enquanto o Terra usa a AFP como fonte, o Yahoo Notícias (e boa parte da mídia brasileira) reproduz as reportagens da Reuters, uma agência americana de notícias que já foi chamada ironicamente de "Al Reuters" por um dos blogs que pesquisei - ou seja, visivelmente comprometida em manter uma imagem lisa do islamismo no mundo. Comece a prestar atenção nas reportagens da Reuters, conferindo-as com outras, e com certeza você será testemunha de mais discrepâncias na mesma linha. Aproveite e poste-as aqui. Precisamos fazer isso porque com certeza há muito mais coisa de podre que possamos imaginar por baixo dos panos nessa relação entre esquerdismo (orientação da Reuters) e terrorismo islâmico...

Mais sobre o Egito, especificamente sobre a mudança de mentalidade que a conversão ao cristianismo proporciona a sacerdotes islâmicos, você encontra (em inglês) aqui.

Violência em Paris (IV) - BILAN


No blog Architecture and Morality, leio que um dos autores teve uma experiência muito ruim com alguns descendentes de imigrantes norteafricanos antes dos levantes de Paris. Episódios de violência gratuita são relatados por ele, como depredação de predios, ataques com pedras e tijolos a lugares públicos e um em especial testemunhado por ele: a agressividade explícita de um rapaz que recusou esperar seu lugar atrás dos outros em uma fila - agressividade finalmente recompensada com a desistência geral de protestar quando ao rapaz se junta um grupo anteriormente escondido e, pela força, eles conseguem passar à frente de todos. Vale a pena ler o texto. A foto de um dos conjuntos planejados, em Clichy, é desse interessantíssimo blog.

Mas vamos ao bilan (em francês, balanço geral de uma situação): quanto mais leio sobre os levantes em Paris, mais me convenço da impossibilidade de sustentar a tese da pobreza como causa de tanta violência. Os jovens em questão são descendentes de imigrantes da África do norte e subsaariana, em sua maioria de cultura islâmica; têm moradia subsidiada (prédios como esse da foto, de Clichy, com arquitetura planejada); têm saúde de graça e ainda recebem seguro-desemprego; costumam ser bem-vestidos (segundo testemunho de amigos que moraram perto dos subúrbios); os ataques à cidade têm sido organizados por celular e internet - o pobre que é pobre mesmo não tem isso. Em tudo, estão em condições infinitamente melhores que os pobres brasileiros. Afirmei isso a uma conhecida, que me respondeu: "Mas isso tudo, comparado com o padrão da França, é pouco."

Ah, sim. Mas então, esta é a justificativa para atos de violência: inveja. Parece-me bizarro que as pessoas estejam tão prontas a compreender que, em nome da inveja, sejam cometidas as maiores barbaridades. Essa é uma das conseqüências de se utilizar o materialismo marxista como chave de compreensão para todas as motivações humanas. As pessoas se tornam cegas para tudo o mais. Porém, se tal redução não é aceitável de forma geral, menos o é nesse caso específico.

O desemprego é real, mas o fato é que, na França de hoje, não há emprego para ninguém. A situação está difícil em toda a Europa. E o racismo remanescente na cultura européia é um dado a não ser desprezado, dificultando a integração desses filhos de imigrantes, que já são discriminados pelo nome árabe. No entanto, o que parece mesmo pairar acima de todas essas considerações, como uma dominante, é o fato de que, ao se rebelarem com tamanha fúria, os jovens não o fazem no vazio, mas usam a força destrutiva do radicalismo muçulmano - a mesma que sustenta ideologicamente a Jihad, ou seja, a guerra santa. Por mais politicamente corretos que os franceses queiram ser, precisam ter a coragem de reconhecer que há culturas no mundo que são mais difíceis de se integrar que outras. O islamismo tem se mantido estável por séculos. Os países islâmicos não passaram pelo processo ocidental de abertura para a diferença, de igualdade da mulher ou de liberação sexual. Nós temos um background cultural que eles não têm ou têm de viés, por influência paralela mas não significativa. Intoxicados de individualismo, temos a tendência de esquecer o quanto a cultura nos molda. Assim, se os esforços do governo para tornar franceses os descendentes de imigrantes parecem inúteis, não é uma crise de consciência socialista, mero mea culpa concentrado na questão econômica, que vai ajudar a França a enfrentar o problema.

Mas, a essas alturas, em um processo adiantado de decomposição dos valores franceses - cuja elite intelectual jogou fora a própria noção de "verdade" e se desembaraçou de seu cristianismo fundador em favor de uma laicidade porosa e estéril - , não sei mais o que a ajudará.

08 novembro 2005

Liberdade na internet ameaçada

Editorial do Estado de São Paulo - 07/11/05

Resumo (com as palavras do artigo)

A internet é gerida pela Icann (Corporação da Internet para a Designação de Nomes e Números), uma entidade privada, sem fins lucrativos, que funciona no Estado da Califórnia. Administrativamente, a Icann está vinculada ao Departamento de Comércio dos Estados Unidos. Esse é um dos motivos pelos quais se atribui aos EUA a hegemonia sobre a internet. Na verdade, o governo americano sempre respeitou os termos do memorando de entendimento pelo qual cedeu a internet ao uso público, não se conhecendo um só caso de interferência sua nas decisões da Icann.

Há dias, numa reunião preparatória para a Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, em Genebra, representantes de vários países lançaram uma ofensiva contra o que chamam de “hegemonia norte-americana sobre a internet”. Os países mais ativos desse grupo são o Brasil, a Arábia Saudita, o Irã e a China. Pretendem atribuir as decisões políticas da internet a um organismo intergovernamental – e dizem que, assim, reforçarão o multilateralismo, a transparência e a democracia. Desse grupo, no entanto, só o Brasil permite que seus cidadãos utilizem, sem restrições, a internet. Os demais proíbem o acesso ou impõem severas restrições ao uso da rede, submetendo seus súditos a pesadas penas, em caso de infração. Estão interessados em tudo – principalmente em exercer o controle político da internet, ou seja, poder censurar seus conteúdos –, menos em multilateralismo, transparência e democracia. O grupo que quer destituir os EUA do “controle” da internet é constituído por países sem vocação democrática – exceto o Brasil – e com forte vezo estatizante – e aí o governo brasileiro não é exceção. Daí quererem que a internet passe a ser administrada pela União Internacional de Telecomunicações, organismo da ONU que representa os interesses dos monopólios estatais – cuja existência é ameaçada pela própria internet. A sobrevivência de um sistema inovador e relativamente livre da interferência estatal está sendo seriamente ameaçada.

De fato, já tem gente por aí (como um certo professor da USP bastante badalado na mídia) falando a favor de uma "gestão multilateral da internet, transparente e democrática, com a plena participação dos governos, do setor privado e de organizações civis". Em Novilíngua (leia 1984 e desconfie cada vez que alguém de esquerda falar em "democracia"), isto significa controle, sobretudo estatal, sobre os conteúdos lidos. Quem não quer que a internet seja controlada pelo governo, tal como é na China, no Irã e na Arábia Saudita (o que o Brasil está fazendo no meio desse pessoal, meu Deus?), levante a mão e divulgue esse horror anunciado!

07 novembro 2005

Violência em Paris (III): evasivas de Villepin

Deu no Figaro:

À pergunta "Por trás disso tudo não está a mão dos islamismo?", o primeiro-ministro [Dominique de Villepin] respondeu: "Claro que há uma preocupação sobre isso, sobre o islamismo como uma influência radical. Mas não creio que seja o principal, ainda que não se possa deixar de levar em conta esse dado. É preciso considerar com cuidado o conjunto dessas ações, mas não é o principal", concluiu.

Então tá. Em sua grande maioria de origem islâmica, vindos de países como a Argélia, os jovens das periferias de Paris, sustentados pelo governo com o seguro social (sem nem precisar trabalhar), estariam fazendo tudo aquilo para chamar a atenção do país para sua desigualdade social? Ou por serem vítimas de racismo? Quer dizer que tamanho ódio - capaz de inspirar adolescentes a assassinar a pauladas um homem diante dos olhos da família, ou a jogar gasolina e tacar fogo em uma senhora aleijada olhando fixamente em seus olhos - deve-se a insatisfação com uma condição de vida precária? E por que a suposta falta de dinheiro não impediu a instalação de uma fábrica de bombas clandestina em um dos bairros de periferia - quase como nas favelas cariocas? Quem é capaz de explicar isso sustentando a tese da pobreza?

Incrível: o politicamente correto parece ter lobotomizado a França. Das duas, uma: ou as afirmações do primeiro-ministro são produções abobalhadas de uma mente doente ("não é o principal, não é o principal..."), ou ele tem contas a prestar ao mundo árabe - a quem o governo francês tem apoiado sistematicamente durante anos. Houve bastante coragem para vender armas a Saddam Hussein em pleno embargo da ONU, mas cadê a coragem para enfrentar a realidade sobre os levantes?

O pior é brasileiro acreditando nisso tudo... Leiam o Primeira Leitura! Leiam o MSM!

Artigo no MSM sobre a violência em Paris

Entenda a articulação que tanto a mídia brasileira quanto a francesa negarão até a morte: esquerdismo e terrorismo - não só em idéias, mas também em atos, sendo a França um país socialista que apóia a causa palestina, tendo inclusive vendido armas a Saddam Hussein em pleno embargo oil for food.

Quem fala disso no Brasil? Ninguém. Mas leia o Mídia sem Máscara e você vai ficar sabendo de muito mais. "Ah", você deve estar pensando, "mas o MSM é um reduto de paranóicos!" Bom, então leia não só o meu artigo, mas o artigo de Heitor de Paola, e rapidinho você mudará de idéia ao descobrir que todos esses escândalos do PT que estão estourando agora já eram matéria de especulação dos "paranóicos" há muito tempo. Confira!

Em tempo: o artigo de Nelson Ascher, da Folha de São Paulo, sobre os conflitos em Paris também está muito bom. Para quem não tem como ler, ponho aqui os dados relevantes apontados por ele, que ora confirmam, ora complementam o que escrevi:

- A condição econômica dos jovens insurgentes é melhor que a de 2/3 dos brasileiros, pois eles contam com o seguro do governo, podendo até mesmo deixar de trabalhar.
- Em maioria, eles são jovens muçulmanos do sexo masculino.
- A palavra de ordem do quebra-quebra é Allah Akbar (“Alá é grande”, em árabe).
- Os subúrbios de Paris têm estado cada vez mais perigosos, assim como as favelas daqui, um território com entrada vigiada e leis próprias.
- Mesmo com sua política sistematicamente pró-causa palestina e pró-árabe, bem como anti-americana e anti-israelense (igualzinho à esquerda brasileira), a França não garante sua segurança. Quem então garantirá?
- O Estado francês, com suas políticas “sociais”, vem vetando a discussão sobre o assunto. Resultado: os franceses não têm a menor idéia do que está lhes acontecendo. Como poderão lidar com o problema?


06 novembro 2005

A violência em Paris (II) e a mídia brasileira

Ciente de que os jornais franceses têm omitido, por ideologia politicamente correta, a origem islâmica dos jovens revoltosos nos subúrbios de Paris, reviro a internet brasileira para saber o que vem sendo divulgado por aqui. Resolvi bancar o brasileiro monolíngüe, com o objetivo de saber o quanto de informação estará perdida para quem não lê francês ou inglês.

Ainda não encontrei, em nenhum dos sites brasileiros que pesquisei, o relato dos fatos que mais chocaram a população francesa no início dos conflitos: um homem de meia-idade, parando seu carro para tirar uma foto na periferia de Paris, é atacado sem piedade por grupos de jovens, e morto a pauladas diante dos olhos estupefatos da família; uma pessoa deficiente é cercada em um ônibus, encharcada de gasolina e finalmente queimada viva. Os franceses começam a comparar esses dias com os dias da Bastilha. O problema é que a Revolução Francesa está bastante positivada no espírito da nação, e isto impede que tais fatos sejam encarados com a devida seriedade.

Vamos lá.

O Globo fala de uma possível relação entre os atos de violência e o radicalismo islâmico, mas o faz de passagem e sem explicar ao leitor brasileiro que a periferia de Paris é praticamente um gueto de imigrantes muçulmanos não-integrados (vindos da Argélia, de Marrocos, da Costa do Marfim) cuja violência já é conhecida há tempos. Confira o trecho: "As autoridades dizem que os protestos noturnos e violentos são organizados pela internet e por telefone celular e que, provavelmente, contam com o apoio de traficantes e ativistas islâmicos." Atribuir a mesma cota de influência a "traficantes" e "ativistas islâmicos", ainda pondo "traficantes" em primeiro lugar, não me parece dar o relevo necessário à questão. E a reportagem termina com uma declaração de político culpando o governo pelos distúrbios. No todo, é superficial, mas tem pelo menos o mérito de mencionar o islamismo.

O JB on line, no portal do Terra, traz detalhes quantitativos, mas ignora por completo, com relação aos conflitos, qualquer participação ou influência cultural do islamismo. Limita-se a dizer que "segundo a polícia, estes incidentes são resultado de ações esporádicas de grupos que se deslocam constantemente". Muito preciso.

O site do msn (não confundir com MSM), que sempre traz notícias em sua primeira página, fala de Bush e Lula, mas silencia absolutamente sobre o levante na França. Seus responsáveis não devem ter achado a notícia relevante...

O Yahoo traz uma notícia razoavelmente grande, com informações detalhadas, listas de cidades atacadas etc., mas não associa os atos de violência dos jovens das periferias a qualquer nuance de radicalismo islâmico, deixando a impressão de uma gratuidade sem sentido ao mencionar o termo "febre dos subúrbios".

Sei que minha pesquisa se limita à internet, onde a grande mídia brasileira não costuma ser muito generosa. Pode ser também que tenha me escapado um ou outro link. No entanto, quis apenas me sentir como o brasileiro que, acostumado a buscar na rede notícias sobre o mundo, procura se atualizar com relação ao que está acontecendo em Paris. Pelo que vi, esse brasileiro sai de sua procura apenas levemente informado - um "verniz" de acontecimentos que não lhe permitem refletir sobre a real dimensão do que está ocorrendo lá. É significativa a omissão quanto à origem islâmica dos jovens, tanto aqui quanto na França: pelo jeito, a correção política quer que associações negativas sejam somente privilégio dos Estados Unidos. Gostaria de ver um especialista francês em Islã se pronunciar com propriedade sobre o assunto, tal como o americano Robert Spencer. Vou procurar mais um pouco e posto aqui o que achar - se achar.

Terrorismo e polarização do mundo: Girard explica


Foto: Le Figaro, levante em Paris

O mundo parece estar se polarizando cada vez mais entre os que defendem a liberdade e os direitos civis, de um lado, e os que acreditam no estatismo e no totalitarismo como a solução para os males do mundo, de outro. No segundo lado, tudo indica que há mais gente: é onde muitos costumam defender, justificar ou minimizar a truculência do terrorismo, já que são contra o "grande vilão" Estados Unidos. É o mecanismo do totalitarismo da vítima em plena ação, percebido pelo antropólogo René Girard : quem se coloca no papel da "vítima" passa automaticamente a ter o direito legítimo de cometer atrocidades. No comunismo (que muitos dizem extinto), a intervenção brutal no livre-arbítrio das pessoas, com coação e mortes por parte das autoridades governamentais, ainda é legitimada - na China, na Coréia, em Cuba e, embrionariamente, na Venezuela - pelo argumento de que tudo é feito "pelos pobres". Girard enfatizou em entrevista que o comunismo é o regime que faz vítimas em nome de vítimas. Isso parece ter virado "moda", e até o mais pacífico dos cidadãos brasileiros pode vociferar e cuspir quando fala dos EUA, enquanto dá de ombros diante do 11 de setembro ou não se importa com o jugo que ditadores como Saddam Hussein impõem no Iraque ou no Kuwait. É como se praticamente o mundo inteiro estivesse gerando um ódio mortal sem precedentes contra os EUA e Israel, com base nesse mecanismo que se autoperpetua pela dificuldade de ser combatido: afinal, o pensamento politicamente correto sempre protege as "vítimas", façam o que fizerem. De minha parte, uma grande tristeza pela constatação de que o século XXI se anuncia como mais violento que o anterior. Não preciso me alongar para dizer por quê: Girard explica.

Violência em Paris (I)

Corbeil-Essonnes, França
Fonte: Le Figaro

O boneco do McDonald parece apontar pateticamente para o que restou da lanchonete, primeiro arrasada pela passagem de um buldôzer (sim, buldôzer!), depois incendiada. Ah, se os jovens daqui fossem como os de lá, já imaginaram? Mas vejam o teor das manfestações anti-Bush de hoje em todo o Brasil: lançamento de ovos, queima de "judas", janelas de embaixada quebradas, prisões... Estamos chegando perto: daí para o buldôzer, é só uma questão de ousadia.

Aparentemente, tudo começou porque dois adolescentes de origem islâmica, Bouna e Zied, crendo-se perseguidos pela polícia, esconderam-se dentro de um transformador e, por acidente, foram eletrocutados. Esse foi o estopim para as depredações em massa que têm abalado os arredores de Paris por dias a fio, contabilizando hoje mais de mil veículos destruídos, além de um sem-número de prédios municipais, escolas e estabelecimentos incendiados.

Assusta a média de idade dos manifestantes, dezoito anos, mas não surpreende sua origem comum: há vinte anos os bairros pobres na periferia de Paris são as barricadas onde tem se desenvolvido sem freios o ódio separatista, oriundo de uma cultura de imigrantes que já chegam ao país estrangeiro recusando a integração. Os professores das escolas públicas têm lidado por muito tempo com um problema que parece sem solução, a extrema agressividade dos jovens das periferias. O especialista em Islã Robert Spencer (ver artigo em inglês) acertou na mosca ao declarar que "os revoltosos são parte de uma população que nunca se considerou verdadeiramente francesa", demonstrando o que a essa altura é impossível ignorar: longe de uma simples insatisfação juvenil contra a pobreza e a ausência de perspectivas, tamanha onda de violência tem associações estreitas com o mesmo sentimento que leva radicais islâmicos a se engajarem em uma "guerra santa", para a qual até crianças são convocadas. Porém, isso parece não ser compreendido pelas teimosas autoridades francesas, que insistem em justificar toda essa violência com as condições econômicas precárias da população das periferias. Não admira: mergulhado na atmosfera politicamente correta que cozinha a Europa há pelo menos quarenta anos, o povo francês está impedido, por escrúpulos socialistas, de perceber o outro lado das diferenças culturais, deixando de abrir os olhos para o poder crescente do terrorismo em todo o mundo - que não se faz sentir por persuasão apenas, mas pela força da espada. Casos como o de Theo Van Gogh não me deixam mentir.

03 novembro 2005

"A verdade não existe"


Depois de ouvir por anos a fio na academia a terrível frase "a verdade não existe", há um bom tempo tomei uma decisão de uma vez por todas: considerar nulidades intelectuais todas as elaborações teóricas ancoradas sobre tal afirmação. Independente da motivação de seus defensores, a frase revela tanto da desonestidade intelectual (consciente ou não) de quem a pronuncia, que sequer tenho mais paciência para me embrenhar em discussões intermináveis com o objetivo de me opor a ela. Ridicularizável em menos de dez segundos, "a verdade não existe" foi concebida para se alçar cinicamente a uma condição superior a todas as enunciações possíveis, pois se presentifica necessariamente como uma "verdade" ao mesmo tempo em que impede sua refutação. É portanto pura crueldade discursiva, terrorismo lingüístico passando-se por resultado de processo argumentativo, com o fim de paralisar a atividade mental do receptor. É, acima de tudo, o lema da indigência intelectual de nossa época - e, como lema, não precisa mesmo prestar tributo à coerência, assim como "é proibido proibir". Mas o que fazer, se a própria academia, que se quer instância "produtora" de conhecimentos por excelência, não se cobra maior razoabilidade? Em vez então de tentar afrontar essas "teorias", uma por uma, em pé de igualdade na arena dos debates intelectuais - e elas são tão numerosas quanto os Smith de Matrix II - , melhor simplesmente sair de perto e deixar que se explodam sozinhas em suas bombas pseudoconceituais. Mais sábio e eficaz é tentar desatar, nas profundezas, os nós cognitivos geradores dessas tautologias modernas - para prevenir o estudante de uma vez por todas de cair nas garras de mais um Smith da vida.

Se você duvida do que estou dizendo, imagine o seguinte diálogo:

- Blá blá blá blá blá, porque não há teoria mais verdadeira que a outra, porque tudo são construções humanas, porque a verdade não existe - declara um estudante, repetindo o que o professor falou.

- Mas criatura - rebate o outro - , você não percebe que, se eu acreditar em você, o que você diz agora também entra para o rol das "construções humanas" e das "verdades que não existem"? E isso desmente tudo o que você falou. Ou por que justamente as suas afirmações iam fugir da comprovação da sua teoria?

- . . .

Ou seja: essas afirmações não são sequer afirmáveis, apenas um curto-circuito mental. Não dá para levar a sério, dá?

02 novembro 2005

Uma leitura do Primeira Leitura

Na crítica política anti-esquerdista, além de escrever muito bem, Reinaldo Azevedo do Primeira Leitura conjuga qualidades de Olavo de Carvalho e Diogo Mainardi: do primeiro, a coragem de dar nomes aos bois e às bovinas perversões, com a linguagem forte que o assunto requer; do segundo, a capacidade de fazer uma verdadeira festa de humor irônico com as mancadas dos outros. Acompanhando seus textos há algum tempo, tenho para mim que se supera deliciosamente quando fala de Emir Sader. Vejam um parágrafo genial de seu artigo de ontem:

Um leitor me manda um e-mail informando que o professor Emir Sader, cuja notória produção intelectual é defender o PT, escreveu que "a Veja é a pior revista do Brasil". Acho uma terrível injustiça. Eu juro que a equipe de Primeira Leitura faz um esforço danado para ser considerada por ele a pior publicação da história. É verdade que, perto da gigante, a gente é quase nada — mas o que conta é a ruindade... Eu prometo ao leitor: até que Sader não nos veja como a coisa mais detestável da mídia, não descansaremos.

Hahaha! Essa deve ser a ambição de muita gente boa que conheço...